Longevidade em movimento: como o Brasil pode transformar os anos extras de vida em qualidade

Especialistas alertam: envelhecer bem exige cuidar da saúde física, mental e financeira desde cedo. No país onde 70% da população é sedentária ou obesa, os brasileiros vivem, em média, nove anos dependentes de cuidados antes de morrer

Aos poucos, o Brasil está deixando de ser um país jovem. Dados do IBGE indicam que a população com mais de 60 anos já ultrapassa 33 milhões de pessoas — o dobro do que havia há uma década. A previsão é que, em 2070, 37,8% dos brasileiros sejam idosos, e a expectativa de vida chegue a 83,9 anos. Mas, junto com a conquista de viver mais, vem um alerta: o desafio de viver melhor.

Durante o XVII Fórum da Longevidade, promovido pela Bradesco Saúde e pela Bradesco Vida e Previdência, em São Paulo, o tema “Longevidade em Movimento” trouxe uma mensagem direta: envelhecer com qualidade depende de atitudes no presente. Mesmo com tanta informação disponível e acesso crescente a programas e recursos de saúde, o Brasil ainda registra índices alarmantes de sedentarismo e obesidade — cerca de 70% da população. O resultado é preocupante: os brasileiros passam, em média, nove anos precisando de ajuda para viver antes da morte, enquanto na Coreia do Sul esse período é de apenas três anos.

Quatro capitais da longevidade

O médico gerontólogo Alexandre Kalache, referência mundial em envelhecimento saudável, lembra que a longevidade é um projeto de vida que deve começar cedo. “Para chegar aos 100 anos com qualidade, é preciso acumular quatro capitais”, ensina. O primeiro é o capital de saúde, que deve ser cultivado desde a juventude: alimentação equilibrada, sono adequado, atividade física e prevenção de doenças são pilares inegociáveis.

O segundo é o capital do conhecimento. “Vivemos uma era de transformação tecnológica e social acelerada. Aprender continuamente é o que nos mantém mentalmente ativos e preparados para as mudanças”, afirma.

O terceiro é o capital social, formado pelas relações e redes de apoio que sustentam a vida emocional e prática na velhice. “Todos nós, em algum momento, precisaremos de cuidados. É preciso refletir: quem vai cuidar de você?”, questiona Kalache.

E, por fim, o capital financeiro, que garante autonomia e segurança. “Envelhecer com dignidade exige estabilidade material — ter um teto, conforto, acesso a medicamentos e renda suficiente para manter o bem-estar”, conclui.

Viver mais não basta: é preciso viver melhor

Para o preparador físico e especialista em qualidade de vida Marcio Atalla, o prolongamento da vida é uma vitória da medicina e da sociedade, mas traz um novo desafio: transformar longevidade em vitalidade. “Estamos vivendo mais, mas não necessariamente melhor. Os anos vividos com autonomia não acompanham o aumento da expectativa de vida”, alerta.

Atalla lembra que o autocuidado é intransferível. “Não adianta esperar por soluções milagrosas ou medicamentos que substituam o que o corpo precisa. Atividade física, alimentação equilibrada, sono e vínculos sociais são os verdadeiros pilares da longevidade saudável”, resume.

Ele reforça que o exercício físico é o mais poderoso remédio preventivo. Caminhar, nadar ou pedalar são atividades capazes de retardar a perda cognitiva e até proteger contra demências. Pesquisas da UFRJ mostram que o hormônio irsina, liberado durante o exercício, pode reverter a perda de memória — algo que nenhum medicamento conseguiu fazer.

Além do impacto cerebral, manter a força muscular é determinante para a autonomia. “Pernas fortes significam independência na velhice. Elas garantem equilíbrio, circulação adequada e diminuem o risco de quedas — uma das principais causas de morte entre idosos”, diz Atalla.

Ele explica que massa e força muscular não são sinônimos: “Ter músculos grandes não garante potência. É preciso trabalhar resistência e movimento constante das pernas.” Mesmo quem foi sedentário a vida inteira pode mudar essa trajetória. “Nunca é tarde para começar. Cada escolha conta para determinar como viveremos o tempo que temos”, conclui.

Atalla lembra o empresário Abílio Diniz, que faleceu aos 87 anos, como exemplo de longevidade ativa. “Ele viveu de forma plena, com autonomia e vitalidade. Desde jovem, praticava esportes e incentivava hábitos saudáveis. Cuidar da saúde não garante viver mais, mas garante viver melhor”, afirma. Para o especialista, o legado de Abílio é a prova de que qualidade de vida é resultado de disciplina e autocuidado.

O desafio financeiro do envelhecimento

A planejadora financeira Ana Leone chama atenção para um outro tipo de desequilíbrio: o financeiro. “Estamos vendo uma geração de pessoas com mais de 60 anos que não consegue viver com os recursos que acumulou. Muitos continuam trabalhando ou dependem da ajuda dos filhos”, lamenta.

Ela observa que o rápido envelhecimento da população criou dois grupos distintos: os que planejaram desde cedo e os que nunca conseguiram ou quiseram pensar no futuro. “Mas, independentemente do grupo, todos enfrentam o mesmo desafio: fazer o dinheiro durar mais do que eles.”

Mesmo aqueles que se planejaram sentem o peso da inflação, do aumento dos custos de saúde e da longevidade. “O dinheiro que parecia suficiente há 30 anos já não garante a mesma segurança”, observa Ana.

Para ela, envelhecer com tranquilidade depende de preservar três capitais: o social, mantendo relações saudáveis e redes de apoio; o da saúde, como pilar central; e o financeiro, construído com disciplina e planejamento cotidiano. “Cuidar das finanças é cuidar de si mesmo. É um ato de amor próprio e de responsabilidade com quem virá depois”, resume.

O futuro já começou

O Fórum da Longevidade reforçou um consenso entre os especialistas: o envelhecimento populacional é um fenômeno irreversível, e o Brasil precisa agir agora. Não se trata apenas de aumentar a expectativa de vida, mas de ampliar os anos vividos com autonomia e propósito.

Como resume Alexandre Kalache, “a questão não é viver até os 100 anos, mas viver os 100 com qualidade”. Para isso, será necessário rever prioridades — tanto individuais quanto coletivas —, transformar hábitos e compreender que a longevidade é uma construção diária.

Em um país que envelhece rápido e ainda lida com altos índices de doenças crônicas e baixa educação financeira, cuidar do corpo, da mente e do bolso é, mais do que nunca, uma questão de sobrevivência — e de esperança.

A programação contou apresentação de Cissa Guimarães, música de Zezé Motta, alerta da médica e pesquisadora da Fiocruz, Margareth Dalcomosobre, sobre novas pandemias, Ashton Applewhite, que defendeu que a longevidade é um direito e que o etarismo precisa ser combatido, e homenagens acoreógrafa e diretora Dalal Achcar e a atriz e escritora Beth Goulart, além da cerimônia de encerramento com Tony Ramos e Denise Fraga.

Executivos do grupo Bradesco Seguros da área de vida e previdência, saúde, seguros patrimoniais subiram ao palco para comentar como o grupo tem pensado na inclusão de seguros, ofertando produtos aderentes a sociedade, inclusive para o público 50+ e empreendedores.

No encerramento do coquetel, Alexandre Kalache autografou o livro “A revolução da longevidade”, que celebra os 80 anos de vida e 50 anos de dedicação do médico gerontólogo.

Fonte: Sonho seguro