Apólices flexíveis e uso de inteligência artificial marcam nova fase do setor
No primeiro semestre de 2025, o mercado de seguro automotivo no Brasil movimentou cerca de R$ 28,9 bilhões em prêmios – alta de 5,94% em comparação ao mesmo período de 2024 – segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep). O segmento correspondeu a mais de 40% da arrecadação dos seguros de danos. As indenizações pagas somaram R$ 17,2 bilhões, registrando aumento de 3,3%.
Os números reforçam o papel estratégico do seguro de automóveis em um cenário urbano de incertezas, especialmente para motoristas de aplicativo, cuja fonte de renda depende diretamente do veículo. Mesmo com leve recuo nacional nos crimes contra veículos em 2024 – queda de 2,6% nos furtos e de 6,1% nos roubos – , a vulnerabilidade desse grupo específico permanece elevada. Em Minas Gerais, por exemplo, os registros de crimes contra motoristas de aplicativo subiram 14% em 2024, totalizando 1.889 ocorrências até maio. No Rio de Janeiro, os furtos cresceram mais de 5% no primeiro semestre de 2025.
“Para os motoristas de aplicativo, cujo carro é ao mesmo tempo ferramenta de trabalho e patrimônio, estar protegido é garantir a continuidade da renda e da mobilidade”, afirma Sergio Leite, presidente de uma seguradora especializada no setor.
Segmentos em expansão e diversidade nas cotações
A busca por seguros de motos ganhou força entre agosto de 2024 e agosto de 2025, passando de 28% para 41% das cotações realizadas. Já para automóveis, a participação caiu de 72% para 59%. Apesar disso, dentro das novas contratações, o seguro auto voltou a predominar: sua participação cresceu de 47% para 53%, enquanto as motos passaram de 78% para 82% nas cotações da categoria. O dado mostra que, embora a atenção dos consumidores esteja mais diversificada, o automóvel ainda resiste como produto central do mercado.
Projeções da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg) indicam que o segmento de danos e responsabilidades deve crescer cerca de 7% em 2025, sustentando o desempenho geral do setor.
Inovações tecnológicas e seguros sob medida
Com a elevação dos riscos, especialmente para motoristas de aplicativo, seguradoras e insurtechs apostam em soluções mais acessíveis e digitais. Entre as inovações estão operações totalmente digitais, com contratação simplificada e cobertura adaptada à rotina desses profissionais, incluindo proteção contra roubo, furto, colisões e assistência 24 horas.
O uso de inteligência artificial também já faz parte da rotina de algumas empresas, acelerando vistorias de veículos por meio de fotos enviadas pelos segurados. Outra novidade é a modalidade de seguro por assinatura, que permite pausas temporárias sem burocracia, oferecendo maior flexibilidade ao consumidor.
Produtos especiais e novas ofertas
Apólices específicas para motoristas de aplicativo e táxis têm crescido em adesão. Esses produtos oferecem coberturas compreensivas, proteção contra roubo e furto, além de assistência personalizada. As cláusulas levam em conta o uso intenso do veículo e os riscos adicionais da atividade, como maior exposição em horários noturnos.
Em paralelo, a regulamentação das associações de proteção veicular avançou em 2025, com a exigência de cadastro obrigatório na Susep, trazendo mais transparência e padronização ao setor.
Desafios e oportunidades
Mesmo com crescimento expressivo, o seguro automotivo enfrenta um desafio de penetração no Brasil. Estimativas apontam que apenas 30% da frota nacional está segurada, deixando 70% dos veículos sem qualquer cobertura. Para motoristas de aplicativo, o custo elevado é um obstáculo: mais de um quarto afirma que a apólice pesa no orçamento familiar.
Especialistas defendem a criação de produtos modulares, com coberturas escalonadas, além de políticas de incentivo e maior educação financeira. A tecnologia aparece como aliada central, permitindo personalizar contratos e reduzir custos operacionais.
Prognóstico e impacto
O setor segurador brasileiro ultrapassou R$ 200 bilhões em arrecadação no primeiro semestre de 2025. Dentro desse universo, o seguro automóvel segue como protagonista entre os ramos de danos, sustentado pela crescente demanda de motoristas profissionais e pela digitalização dos serviços.
Em um país marcado pela mobilidade urbana intensa e por altos índices de criminalidade, o seguro automotivo deixa de ser luxo e se reafirma como ferramenta de resiliência econômica. O desafio agora é ampliar o alcance para incluir os milhões de condutores que ainda circulam desprotegidos.
Fonte: O Hoje Online