Cerimônia acontece em outubro, em Madri, e celebra a trajetória do maestro brasileiro, marcada pela superação e pelo compromisso social
A Fundación MAPFRE concedeu ao maestro e pianista João Carlos Martins o “Prêmio por Toda uma Vida Profissional José Manuel Martínez Martínez”, homenagem destinada a personalidades que dedicaram sua trajetória ao bem-estar social com generosidade e compromisso. Além do título, o maestro receberá também uma premiação de 40 mil euros, em cerimônia marcada para 8 de outubro, no Casino de Madri, na Espanha. A entrega será feita pela Rainha Sofia.
“O Prêmio por Toda uma Vida Profissional José Manuel Martínez Martínez é um reconhecimento não apenas à genialidade musical de João Carlos Martins, mas também à sua dedicação em usar a música como ferramenta de impacto social. Para nós, é motivo de orgulho celebrar um brasileiro cuja vida inspira coragem, resiliência e solidariedade, valores que refletem a missão da Fundación MAPFRE”, afirma Felipe Nascimento, CEO da MAPFRE Brasil e representante da Fundación MAPFRE no Brasil.
Reconhecido como um dos maiores intérpretes contemporâneos de Bach, João Carlos Martins (São Paulo, 1940) gravou a integral das obras para teclado do compositor, distribuídas em 21 CDs — conquista que lhe rendeu comparações da imprensa internacional a pianistas de prestígio, como o canadense Glenn Gould.
Ao longo de sua carreira, Martins recebeu diversas condecorações, entre elas a Ordem do Mérito Cultural do Brasil (1998 e 2005) e a Ordem do Infante D. Henrique, em Portugal. Também foi celebrado em palcos de prestígio mundial, como o Carnegie Hall e o Lincoln Center, em Nova York, além de salas de concerto de referência internacional.
Sua história, marcada por desafios, tornou-se exemplo de resiliência artística e pessoal. Foram mais de 30 cirurgias, além de acidentes e doenças neurológicas que comprometeram seus movimentos e o afastaram do piano em diferentes momentos. Aos 25 anos, sofreu uma lesão no nervo do braço durante uma partida de futebol, que atrofiou três dedos da mão direita. Após recuperação parcial, desenvolveu distonia do músico, doença neurológica que afeta o sistema músculo-esquelético. Nesse período, chegou a abandonar a carreira, vender seus pianos e trabalhar como treinador de boxe. Mas a paixão pela música falou mais alto: ele criou um método próprio para tocar apenas com a mão esquerda e alguns dedos da direita, retomando sua atividade artística.
Mesmo diante de novos obstáculos, Martins jamais se afastou da música. Chamado pelo The New York Times de “o indomável”, reinventou-se como maestro, desenvolvendo uma técnica própria de regência sem o uso da batuta e memorizando mais de 150 partituras.
Em 2019, graças ao seu espírito incansável e ao uso de luvas biônicas especialmente adaptadas, voltou a tocar piano com todos os dedos das duas mãos, após mais de duas décadas afastado do instrumento. Seu retorno simbolizou não apenas uma conquista pessoal, mas também um marco de superação que inspira milhões de pessoas no mundo.
Carreira profissional
João Carlos Martins iniciou sua trajetória musical aos oito anos. Aos 20, estreou no lendário Carnegie Hall, em Nova York, com patrocínio de Eleanor Roosevelt — marco que projetou sua carreira internacional. Desde então, apresentou-se com algumas das principais orquestras do mundo e gravou a integral das obras para teclado de Bach.
Em 2004, realizou duas gravações emblemáticas em Londres: os Seis Concertos de Brandemburgo, ao lado da English Chamber Orchestra, e as Quatro Suítes Orquestrais de Bach, em parceria com a Bachiana Chamber Orchestra.
Em 2025, no ano em que completou 85 anos, retornou ao Carnegie Hall para sua 30ª apresentação em Nova York, mais de seis décadas após a estreia no mesmo palco. O concerto foi considerado histórico pela crítica e consolidou ainda mais seu legado como um dos grandes nomes da música clássica contemporânea.
Compromisso social
Além da carreira como pianista e maestro, João Carlos Martins dedicou as últimas décadas a projetos de inclusão social por meio da música. Em 2006, fundou a Fundação Bachiana, criada com o propósito de democratizar o acesso à cultura no Brasil, formar jovens talentos de comunidades vulneráveis e promover uma educação musical de excelência.
A instituição é responsável por orquestras como a Bachiana Filarmônica SESI-SP, que reúne músicos profissionais e jovens aprendizes, levando concertos a locais remotos e inspirando novas gerações. Graças a esse trabalho, milhares de crianças e adolescentes tiveram acesso a oportunidades de formação artística.
Martins também leva sua música a escolas, praças e comunidades marginalizadas, sempre com o objetivo de aproximar a arte das pessoas. Entre suas iniciativas está o coro Somos Iguais, formado por jovens refugiados. Em 2020, apresentou-se em um albergue de Roraima para migrantes e refugiados venezuelanos, compartilhando sua história de superação e levando esperança a quem mais precisava.
Hoje, aos 85 anos, segue à frente de concertos e atividades educativas e atua como orientador do projeto Orquestrando, que reúne mais de 750 orquestras, bandas e grupos musicais formados por jovens talentos em todo o país. Sua trajetória reafirma o compromisso com a cultura, a inclusão social e a transformação de vidas pela música.
“É uma honra para a Fundación MAPFRE reconhecer a trajetória do maestro João Carlos Martins, exemplo de superação e compromisso social. Sua história mostra como a arte pode transformar vidas e levar esperança a quem mais precisa, em sintonia com o propósito da nossa instituição de promover inclusão, cultura e bem-estar em todo o mundo”, afirma Fátima Lima, também representante da Fundación MAPFRE no Brasil.
Criados em 2009, os Prêmios Sociais da Fundação MAPFRE reconhecem, anualmente, pessoas, instituições e projetos que compartilham o compromisso de transformar a sociedade por meio de ações de destaque nas áreas de interesse da Fundação.
Fonte: MAPFRE