“O governo brasileiro vive com um orçamento muito apertado e qualquer evento climático tem um impacto orçamentário muito forte”, diz Claudia Prates
O setor de seguros brasileiro dá um passo à frente na adaptação às mudanças climáticas. Durante o painel “Desafios da transição climática: A importância de dados climáticos para melhorar a precificação dos riscos na transição climática”, realizado no 3º Workshop de Seguros para Jornalistas, em 22 de agosto, no Rio de Janeiro, o professor da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ), Fernando Teixeira, apresentou o projeto de hub de dados socioambientais e riscos climáticos, que sua equipe está desenvolvendo para a CNseg.
O que é o hub de dados socioambientais e riscos climáticos
O hub é uma plataforma inovadora que integra dados científicos, socioeconômicos e ambientais, oferecendo informações precisas para tomada de decisão de seguradoras e gestores públicos. “A gente vai processar todas essas bases de informações e colocar isso num número, junto com uma explicação de como chegamos a esse número. A seguradora pode usar esse dado ou tirar suas próprias conclusões sobre o risco”, explicou Teixeira.
A ferramenta permitirá consultas por CPF, CNPJ, CAR, endereço, CEP, coordenadas geográficas ou até mesmo polígonos específicos. Com isso, seguradoras poderão avaliar com mais precisão riscos de eventos climáticos, enquanto municípios e empresas terão acesso a informações que os ajudam a planejar estratégias de adaptação e mitigação.
Por que o hub é necessário
Claudia Prates, diretora de Sustentabilidade da CNseg e moderadora do painel, destacou que “o governo brasileiro vive com um orçamento muito apertado e qualquer evento climático tem um impacto orçamentário muito forte”. Ela reforçou que a falta de uma proteção securitária adequada aumenta os efeitos sobre os mais vulneráveis, tornando indispensável o investimento em ferramentas que permitam medir e precificar riscos de forma mais eficaz.
Maria Netto, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (ICS), acrescentou que “dados são importantes, não só dados, mas também metodologias, formas e modelos em que possamos entender melhor essa informação, para precificar os riscos e decidir onde investir para reduzir impactos futuros”. Segundo ela, o hub permitirá integrar cenários climáticos nas decisões de bancos, investidores e governos, aumentando a resiliência de projetos de infraestrutura e financiamentos.
Transformando dados em ação
Lincoln Muniz Alves, coordenador-Geral do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), ressaltou que “nada dessas informações vai ser eficiente se não trabalharmos no território para aumentar a resiliência”. Ele destacou que a ciência ainda não permite prever com exatidão eventos climáticos em locais específicos, mas que a integração de dados científicos em uma ferramenta acessível pode trazer clareza para gestores públicos e privados, orientando decisões mais eficazes frente aos riscos climáticos.
Uma ferramenta que conecta ciência, tecnologia e seguro
O hub, conforme Teixeira, combina tecnologias de inteligência artificial, Big Data e Data Science para simplificar informações complexas, tornando-as “palatáveis” e acionáveis para decisores. O projeto está dividido em duas frentes: riscos climáticos, com foco inicial em inundações urbanas e rurais, e análise socioambiental, que cruza dados de 18 fontes diferentes, incluindo áreas de desmatamento, presença de comunidades indígenas e registros de trabalho escravo.
Segundo o professor, “a ideia é que a pessoa entre com um endereço ou coordenada e receba um número indicando o risco, junto com a explicação do cálculo. Isso ajuda seguradoras e gestores a tomar decisões mais informadas”.
Um passo decisivo para a transição climática
O hub representa um avanço no uso de dados para melhorar a precificação de riscos e apoiar uma transição climática justa no Brasil. Como destacou Claudia Prates, uma proteção securitária eficiente é essencial para reduzir impactos econômicos e sociais, especialmente sobre os mais vulneráveis. Com o hub, o setor de seguros poderá não apenas reagir a desastres climáticos, mas também contribuir ativamente para a prevenção e resiliência.
Fonte: Sonho seguro