A nova era do risco: como o setor de seguros vem se adaptando ao avanço dos eventos climáticos extremos

Por Eduard Folch, presidente da Allianz Seguros

Os eventos climáticos extremos deixaram de ser exceções sazonais para se tornarem ocorrências constantes e cada vez mais intensas. Segundo um relatório publicado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), a quantidade de desastres naturais aumentou cinco vezes nos últimos 50 anos em razão das mudanças climáticas e do aperfeiçoamento na maneira com que eles são mensurados e registrados. Somente em 2024, o total de perdas econômicas globais decorrentes de desastres naturais chegou a US$ 368 bilhões, sendo quase 80% delas causadas por eventos de origem meteorológica. Diante desse cenário, o setor segurador tem reforçado sua atuação na identificação de riscos, avaliação precisa e agilidade no atendimento aos segurados.

O mercado de seguros, que historicamente acompanha as transformações da sociedade, tem promovido o aperfeiçoamento contínuo, diante de um cenário climático cada vez mais imprevisível. Se antes o segmento atuava com a análise de eventos passados para prever riscos futuros e estruturar coberturas padronizadas, com o comportamento climático deixando de seguir padrões previsíveis, “olhar pelo retrovisor” já não faz sentido. Acompanhamos hoje empresas que estão acelerando sua transformação rumo à construção de soluções mais dinâmicas e resilientes para proteger a sociedade e, consequentemente, abandonando modelos de precificação generalistas.

A transformação é profunda e envolve, sobretudo, o uso da tecnologia e da inteligência artificial. As seguradoras estão combinando análises de dados históricos a modelos preditivos avançados, enriquecidos por informações externas (como imagens de satélite e consultorias especializadas em meteorologia), para entenderem melhor os padrões climáticos e agirem com mais precisão. Também é feito um mapeamento detalhado das regiões mais vulneráveis a desastres naturais, o que as ajuda a distribuírem melhor os riscos e se protegerem de perdas expressivas. As estratégias de precificação e aceitação de seguros são ajustadas com frequência, levando em conta fenômenos como o El Niño. Além disso, o mercado tem criado soluções sob medida para diferentes perfis de risco e regiões.

Para além de indenizar perdas, o mercado segurador contribui para a resiliência do futuro. A crescente necessidade de proteção é um fenômeno em expansão contínua. A edição 2025 do Relatório Global de Seguros, produzido pela Allianz Research, indica que, nos próximos dez anos, mundialmente o setor deve crescer a uma taxa anual de 5%, ultrapassando o ritmo da produção econômica. Para o Brasil, a alta prevista é de 9%, enquanto a evolução esperada para o PIB nominal é de pouco mais de 5%. Por isso, a adaptação é essencial, seja com seguros bem estruturados ou com medidas preventivas que fortaleçam pessoas e empresas frente às catástrofes naturais. Por outro lado, a conscientização sobre as mudanças climáticas e a importância do seguro transforma percepção em ações concretas. À medida que eventos extremos passam a serem reconhecidos como consequências previsíveis de um planeta em transformação, cresce também o compromisso mútuo com atitudes mais responsáveis e um olhar mais cauteloso se volta ao mercado segurador.

Neste cenário, a COP30 – Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas –, que será realizada no Brasil em novembro deste ano, representa uma grande oportunidade para posicionar o setor como agente fundamental na busca por soluções relacionadas à sustentabilidade e riscos climáticos. Ao trazer o tema para debate, o evento tende a incentivar a sociedade sobre a importância da proteção financeira, o governo a integrar o seguro em políticas públicas de adaptação e fomentar, no setor privado, práticas de gestão de risco alinhadas à agenda ESG.

Mais do que um ajuste técnico, o que se observa é uma mobilização contínua por parte das seguradoras para ampliar sua capacidade de resposta, com inovação em produtos, precificação mais precisa e uma postura proativa frente à sustentabilidade e à gestão de riscos. E a adaptação é uma questão de sobrevivência econômica, mas também uma oportunidade estratégica para liderar a transição rumo a um modelo de negócios mais sustentável e preparado para o que vem pela frente.

Fonte: Allianz Seguros