Para combater os avanços da criminalidade e os acidentes nas rodovias brasileiras, as empresas transportadoras investem cada vez mais em tecnologia e planos de gerenciamento de risco alinhados ao tipo de carga movimentada, impactando diretamente nos programas de seguros de transporte no país. No ano de 2024, totalizou cerca de R$528,9 milhões de pagamentos de indenizações por roubos de carga, de acordo com levantamento feito pela CNseg, quase 11% a mais do que no ano anterior. Segundo matéria do Valor Econômico, o segundo maior montante nos últimos cinco anos, superado apenas pelo registrado em 2022, quando foram pagas indenizações em torno de R$630 milhões.
De acordo com dados do Valor Econômico, o número de roubos de cargas no ano de 2024 caiu em relação a 2023, para em torno de 10,5 mil casos, mas o valor das mercadorias subtraídas (especialmente medicamentos, eletrônicos e insumos industriais) aumentou consideravelmente, atingindo R$ 1,2 bilhão, 21% a mais que o registrado em 2023. “Esse cenário tem pressionado o setor de seguros a se adaptar rapidamente, fazendo com que as seguradoras passem a investir em tecnologia e em planos de gerenciamento de risco mais sofisticados, ajustados às características específicas de cada operação”, ressaltou Marcos Siqueira, diretor de transportes e equipamentos do grupo HDI.
“Esse quadro de crescente insegurança no transporte de cargas nos leva a investir muito em tecnologia e a trabalhar para aumentar a conscientização dos clientes, no sentido de buscar uma proteção mais adequada para garantir segurança jurídica e financeira para as empresas transportadoras”, concordou Jarbas Medeiros, diretor de ramos elementares e vida da Porto.
De acordo com Siqueira, a intenção da HDI é oferecer soluções personalizadas, desenhadas para atender às necessidades específicas de cada cliente de forma ágil e eficiente. Segundo informações trazidas pelo Valor Econômico, o grupo também quer trabalhar juntamente com seus parceiros corretores para “entregar uma experiência fluida, tanto na contratação quanto no suporte aos clientes”, acentuou.
A Porto já adota uma medida para orientar empresas e corretores sobre os cuidados que devem ter no transporte de cargas, destacou Medeiros, para matéria do Valor Econômico. Ele também revelou a atenção que devem tomar desde o tipo de mercadoria que está sendo transportada, o limite de carga e o percurso por estradas com elevado índice de roubos até sugestão de monitoramento e escolta para cargas de alto valor e potencial de risco. “Trabalhamos muito com a conscientização dos corretores, mostrando a importância do seguro e os riscos que o desvio de carga traz para a sustentabilidade das empresas”, concluiu o executivo.
Para o Valor Econômico, a escalada das indenizações por perdas causadas por ações criminosas contra transportadoras e motoristas autônomos não é exclusiva do Brasil. “Os riscos envolvendo problemas logísticos são uma das grandes preocupações na América Latina”, afirmou Diego Reppetti, diretor regional da Allianz Commercial Latam, citando o estudo Risk Barometer 2025, que aponta roubos, fraudes e corrupção como a quarta principal preocupação no segmento de transporte e logística, com 22% das respostas. “No que tange especificamente a ações contra transportadoras e motoristas, temos visto, sim, um aumento na sinistralidade nos países onde a Allianz Comercial está presente, como Brasil, Argentina, México e Colômbia, com destaque aos roubos de carga”, acrescentou.
Do lado das transportadoras, segurança se tornou diferencial competitivo. Diego Kiçula, superintendente jurídico da Jamef, destacou para o Valor Econômico os investimentos em tecnologias como rastreamento por GPS, câmeras e treinamentos. “Além de aderir à modalidade do seguro de responsabilidade civil e desvio de carga, investimos em tecnologias de segurança e monitoramento, como rastreamento por GPS, câmeras e treinamentos, o que inclusive reduziu nossa sinistralidade”, afirmou. “Desembolsamos mais de R$6 milhões, anualmente, em inovações voltadas para a segurança”, completou.
Apesar da insegurança nas estradas, o mercado vê sinais positivos. De acordo com o Valor Econômico, a procura por seguros de desvio de carga cresceu 27,1% em 2024, com arrecadação de R$1,4 bilhão, segundo a Susep. Na Porto, as receitas do segmento avançaram cerca de 23%, segundo Medeiros. Esse crescimento está ligado à Lei nº 14.599, de 2023, que tornou obrigatório o seguro RC-DC para cobrir danos às mercadorias transportadas. “Essa regulamentação trouxe diversos ganhos para o setor”, avalia Siqueira, do grupo HDI. “O que antes não era coberto pelas apólices passou a estar contemplado, ampliando a proteção para os transportadores e contribuindo para uma gestão de risco mais eficiente.”
Para Marco Darhouni, diretor da WTW, as novas diretrizes exigiram ajustes por parte das seguradoras. “As seguradoras lidam com o aumento dos custos operacionais, riscos climáticos imprevisíveis e a crescente digitalização, que traz riscos cibernéticos adicionais. Isso exige inovações tecnológicas e uma abordagem colaborativa entre os diferentes agentes do setor para garantir uma cobertura eficaz e acessível”, explicou.
Segundo o Valor Econômico, o desafio da criminalidade continua alto em todo o país, especialmente no Sudeste, onde São Paulo concentra 45,8% das ocorrências, seguido por Rio de Janeiro (35%) e Minas Gerais (12,1%). Segundo Raphael Miranda, sócio-diretor do escritório Raphael Miranda Advogados, esses dados reforçam a importância do plano de gerenciamento de risco (PGR) atrelado à apólice. “O enfrentamento dessas situações de grande complexidade operacional ressalta cada vez mais a exigência de um plano de gerenciamento de risco (PGR), vinculado à apólice, elaborado em conjunto pelo transportador e pela seguradora.”
Luciana Dias Prado, sócia do escritório Lefosse, destacou para o Valor Econômico que a cobertura para desaparecimento de carga, agora obrigatória, amplia a responsabilidade das transportadoras. “São ações importantes para a preservação ambiental, uma vez que o desaparecimento, utilização e descarte irregular das mercadorias transportadas, principalmente em se tratando de produtos químicos, são potencialmente danosos ao meio ambiente”, concluiu.
Fonte: CQCS