Queda de árvore, destelhamento e alagamento são os casos mais comuns em eventos climáticos como esse, porém, nem todos estão cobertos nos seguros básicos. O ciclone extratropical que vem atingindo boa parte do Sul do Brasil desde quarta-feira (12) já deixou rastros de destruição na região. Só no Rio Grande do Sul, 52 municípios foram atingidos pelas chuvas volumosas previstas, além de queda de granizo, inundação, alagamento e vendaval, que foram algumas das causas das perdas materiais.

Pouco mais de 800 mil pessoas também ficaram sem luz, além dos registros de uma morte e 23 pessoas feridas. A estimativa da Defesa Civil do estado é que 17.399 pessoas foram afetadas pelo evento climático.

Santa Catarina chegou a registrar ventos intensos que atingiram a casa dos 100 km/h, com quedas de árvores pela raiz e o desabamento de um galpão na região Oeste, com mais de 80 municípios atingidos, segundo relatou a Defesa Civil local.

O que o seguro cobre e o que não cobre?

Segundo os especialistas do mercado de seguros consultados pelo InfoMoney, os seguros podem cobrir boa parte desses danos. Contudo, a maioria não está inclusa nos pacotes mais básicos dos planos patrimoniais contratados – como o automóvel, o residencial e o empresarial, e precisam ser contratadas à parte.

É o caso das coberturas para granizo, dano elétrico, alagamento e vendaval, que podem ser adquiridas adicionalmente ao seguro residencial ou empresarial, por exemplo. A cobertura para vendaval é a mais acionada pelos segurados quando há ocorrência de ciclones.

“Dá amparo a destelhamento e eventual queda de árvore, tudo que for causado diretamente pelo vento estaria na cobertura de vendaval, como objetos vindo de outros vizinhos que atingiram imóveis, como letreiros, telhados, etc.”, explica Magda Truvilhano, vice-presidente da comissão de Riscos Patrimoniais Massificados da FenSeg (Federação Nacional de Seguros Gerais).

Ricardo Pansera, vice-presidente da Fenacor (Federação Nacional dos Corretores de Seguros) para a região Sul, comenta que, de fato, tem recebido relatos de colegas corretores que operam na região sobre diversos destelhamentos, de postos de gasolina a galpões – inclusive de um famoso festival, a “Festa do Peixe”, que ocorre em Tramandaí, no litoral norte gaúcho, e teve as atividades paralisadas para manutenção do telhado. Pansera conta que no outro ciclone que atingiu o estado, em agosto de 2022, somente a sua corretora chegou a registrar 100 casos do tipo.

De acordo com o corretor, outro caso comum são os alagamentos decorrentes dos rios que enchem e transbordam, atingindo imóveis ao redor, seja pela intensidade da precipitação ou até por chuvas mais amenas, porém contínuas. Ele alega existir uma certa dificuldade na disponibilização dessa cobertura pelas seguradoras junto aos produtos tradicionais, justamente porque é preciso contratar à parte. “Não quer dizer que não tenham ou não façam, mas aí tem que fazer um pedido e ela faz uma extensão. E quando o segurado pede, ele tem um certo risco, de sofrer ali o alagamento. E tem seguradora que não aceita”, aponta Pansera.

“Tivemos um caso de alagamento de uma empresa próxima do rio que transbordou, mas o cliente não contratou essa cobertura”, conta também Guilherme Bini, diretor territorial da seguradora Mapfre para a região Sul. Por isso, ele destaca que é importante entender todos os riscos aos quais o consumidor – seja pessoa física ou jurídica – está exposto para contratar as coberturas e valores de indenização mais adequados ao seu caso.

Além disso, é importante sempre estar em dia com a manutenção do local. Isso vale para a calha da residência ou empresa, que deverá estar limpa de folhas, por exemplo, para evitar entupimento. “Se não fizer manutenção da calha, teve entupimento e transbordamento, não terá cobertura. Mas se a calha for danificada por uma chuva de granizo e tiver essa cobertura, estará coberto”, alerta o diretor da Mapfre.

Outro exemplo é o de um vídeo circulando nas redes sociais, gravado na quarta (12) em Chapecó (SC), que mostra um automóvel atingido por uma placa de um posto de gasolina que se desprendeu, saiu voando com o vento e atingiu o veículo que estava parado na rua. “Se o posto tinha um seguro de Responsabilidade Civil, estaria coberto”, explica.

Uma cobertura de responsabilidade civil garante, ao segurado responsável por danos causados a terceiros, a proteção contra as indenizações a que for obrigado a efetuar, a título de reparação, por exemplo, por decisão judicial ou por acordo com os terceiros prejudicados. “Se o veículo tiver o seguro compreensivo, também estaria amparado”, continua Bini. O seguro compreensivo garante a indenização em caso de roubo, furto, incêndio e casos de intempéries, como chuva, vento ou queda de árvore sobre o veículo, incluindo ainda a submersão parcial ou total do veículo em água doce, proveniente de enchentes ou inundações.

Já quem teve problema de queda de energia, resultando em algum dano elétrico, é necessário ter a cobertura específica contratada para obter indenização. Um dano elétrico costuma ser caracterizado quando aparelhos ou condutores elétricos apresentem, por causas diversas, defeitos que provoquem, com ou sem curto-circuito, superaquecimento e, consequentemente, derretimento de metais de ponto de fusão mais baixo, como, por exemplo, o cobre, que é o condutor de eletricidade mais utilizado. É comum aparecer até chamas residuais, contudo, sem incêndio nem dano causado pelo fogo, apenas na parte elétrica.

O que fazer se minha casa, carro ou empresa forem atingidos?

O primeiro passo para o segurado é contatar a assistência 24h da seguradora, que providenciará o atendimento emergencial para que o dano não seja agravado. Ou seja, se o automóvel foi atingido por uma árvore, poderá ser enviado um guincho para a retirada do veículo e posterior encaminhamento à oficina.

Se houve um destelhamento na residência ou empresa, a seguradora poderá enviar uma equipe para cobrir a falta de telhas com uma lona e evitar que vento ou água invadam ainda mais o local. Ou, ainda, dependendo do caso, o próprio segurado poderá providenciar o reparo emergencial para ser posteriormente indenizado. Nessa situação, a indicação é de sempre seguir o que a central de atendimento orientou e registrar tudo por fotos e vídeos para documentar todo o processo e garantir a indenização.

Magda, da FenSeg, destaca que as seguradoras têm adotado a agilidade e a simplificação nos processos como boa prática em eventos catastróficos como esse vivenciado pelo sul do país (a exemplo do que foi feito em fevereiro em São Sebastião, litoral paulista). “O que acaba acontecendo quando temos um evento assim, é que as pessoas acabam demorando um pouco para abrir o sinistro (ocorrência do risco previsto no contrato de seguro). Elas acabam abrindo até um, dois ou três dias depois do acontecido. O que as seguradoras fazem para simplificar é abrir pontos de atendimento perto, porque a dúvida em relação a ocorrência do sinistro não existe, então as seguradoras simplificam o processo para agilizar”, pontua.

Mobilização para atendimento

A Mapfre ainda não tem números exatos dos atendimentos realizados desde o início da passagem do ciclone, mas já implementou um plano de contingência para viabilizar atendimento prioritário aos segurados. Entre as medidas adotadas está o reforço no número de profissionais da sua rede de assistência 24 horas, da equipe de atendimento ao cliente e de peritagem de sinistros. A mobilização inclui monitoramento em tempo real de seus prestadores e abrange diversos tipos de seguros, como automóveis, residenciais, empresariais, rurais, entre outros.

Outra seguradora, a Zurich, informou que possui um protocolo específico para lidar com emergências no serviço de assistência 24 horas. “Embora não tenha havido atendimentos nas regiões atingidas, por experiência, a maioria dos acionamentos costumam vir após a baixa do nível da água e após o reestabelecimento da rede de energia e internet nestes locais”, comenta Fabio Leme, diretor executivo de Personal Lines da Zurich, informando ainda que a situação está sendo “monitorada hora a hora” pela companhia.

O executivo conta que já foi definido um plano de contingência, com atendimento que prioriza a agilidade, em um modelo no qual o regulador tem a autoridade para tomar a decisão final de aprovar ou negar o sinistro, bem como determinar o valor da indenização, com base em sua análise durante a vistoria. Agilizando, assim, o processo de regulação do sinistro.

A Bradesco Seguros também reforçou o atendimento na região. Entre as medidas, estão atendimento específico para assuntos relacionados a vendaval, chuva e outros fenômenos naturais extremos aos clientes do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Até o momento, a seguradora contabiliza mais de 60 chamados especiais na região.

“Essa mobilização, em caráter especial, é estendida até a normalização do número de sinistros na região atingida. Para manter a excelência do serviço oferecido aos segurados, mesmo em um período de adversidade, reforçamos o contingente para dar um suporte ao aumento da demanda, a fim de agilizar o processo de indenização”, explica o superintendente executivo de Operações da Bradesco, Carlos Oliva.

Há cerca de um mês, a região Sul já havia sido atingida por um fenômeno natural extremo. Na ocasião, a Bradesco Seguros realizou mobilização específica nas cidades de Porto Alegre, Gravataí, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Viamão, Sapucaia do Sul, Canoas, Cidreira, Esteio e Tramandaí. A seguradora abriu atendimento para mais de 120 sinistros de seguros residenciais e empresariais. Desse total, cerca de 90% correspondem apenas ao seguro residencial.

Com as fortes chuvas que atingiram, principalmente, as regiões Sul e Sudeste no primeiro trimestre deste ano, a Bradesco Seguros registrou mais de 85 mil chamados emergenciais de assistências residenciais, empresariais e mais de 38 mil para automóveis.

Fonte: JAMILE NIERO / INFOMONEY