Setor busca soluções tecnológicas e fortalecimento institucional para ampliar a cobertura e enfrentar o aumento dos riscos climáticos e estruturais
Por Tany Souza
As florestas plantadas desempenham um papel estratégico na economia brasileira, sendo fonte de matéria-prima renovável, geração de empregos e serviços ambientais. Diante da crescente exposição a riscos climáticos e de incêndios, o seguro florestal ganha relevância como instrumento de proteção e sustentabilidade para o setor. Ao mesmo tempo, o avanço tecnológico tem transformado a forma como seguradoras avaliam e monitoram esses riscos, tornando o processo mais eficiente e preciso.
Segundo dados da APRE Florestas (Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal), as florestas plantadas representam 1,47% da área total do Brasil, contribuindo para a produção sustentável de madeira e a conservação da natureza. Em 2023, o Brasil atingiu US$ 339,67 bilhões em exportações, das quais o Paraná foi responsável por US$ 25,28 bilhões (7,44%). Nas exportações de produtos florestais, o país alcançou US$ 13,88 bilhões e o Paraná, US$ 2,44 bilhões (17,64% das exportações brasileiras do segmento). O setor florestal paranaense representou 0,7% das exportações brasileiras e 9,65% das exportações do estado.
O gerente de Subscrição de Seguros Rurais da Brasilseg, Fernando de Campos Cunha, comentou para o portal, quais são os desafios e oportunidades do seguro florestal no país, além do papel da tecnologia no fortalecimento desse mercado. “Apesar de o setor florestal brasileiro ser economicamente pujante e demonstrar um potencial de crescimento significativo na demanda por proteção, o seguro florestal ainda representa uma fatia incipiente do mercado de seguros rurais, o que configura uma lacuna crítica na gestão de riscos de longo prazo da atividade.”
Ele explica que, de acordo com a Susep, em 2024 o mercado contratou cerca de R$ 15,8 milhões em prêmios – um valor baixo diante do potencial. “Para que o setor avance e amplie a área segurada de forma sustentável, é necessário investir na modelagem de risco e na ampliação das coberturas. O longo ciclo de produção da floresta dificulta a precificação e eleva o custo dos prêmios, especialmente pela escassez de dados históricos confiáveis”, ressalta. Cunha pontua ainda que a falta de cultura de seguro entre os produtores, somada à percepção de custo elevado, reduz a adesão. “É crucial intensificar o fomento e a conscientização, posicionando o seguro florestal como um investimento estratégico para a estabilidade e a perenidade dos ativos florestais brasileiros”, afirma.
O executivo reforça que “o seguro florestal é uma ferramenta essencial para a sustentabilidade econômica das florestas plantadas, um setor que representa cerca de 1,3% do PIB, ocupa 9,9 milhões de hectares e gera mais de 779 mil empregos diretos e indiretos”. Segundo ele, o seguro assegura a indenização contra perdas que levariam anos para serem recuperadas, protegendo um investimento estimado em R$ 37,2 bilhões. “Em 2024, o mercado pagou cerca de R$ 6,4 milhões em indenizações, e para 2025 já são esperados pagamentos de R$ 62,6 milhões, segundo dados da Susep”, completa.
Sobre o uso da tecnologia, Cunha destaca que “o sensoriamento remoto, o uso de drones e imagens de satélite se tornaram ferramentas indispensáveis para o monitoramento e a precificação do seguro florestal, reduzindo custos e aumentando a precisão das análises”. Ele explica que essas tecnologias permitem detectar focos de calor, estresse hídrico e anomalias no desenvolvimento das florestas, além de garantir avaliações mais justas em caso de sinistro. “Essas geotecnologias são essenciais para tomadas de decisão mais rápidas e assertivas, além de fortalecerem a adaptação do setor frente às ameaças climáticas”, pontua.
Desafios do setor
Questionado sobre os desafios do setor diante de eventos climáticos extremos, o gerente observa que “o seguro florestal está em constante adaptação, incorporando tecnologia e flexibilizando coberturas. No entanto, o grande obstáculo é a capacidade de resseguro, já que a natureza de longo prazo e o risco crescente exigem preços mais elevados e maior cautela das resseguradoras”. Segundo ele, é necessário desenvolver mecanismos internos de retenção de risco e fortalecer a participação do governo para ampliar a capacidade de resposta.
Cunha também ressalta que “o seguro florestal, embora essencial, ainda carece de ajustes regulatórios e de maior previsibilidade orçamentária dentro do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR)”. Ele lembra que o setor florestal depende fortemente desse apoio, mas a instabilidade dos recursos e a priorização de outras culturas limitam o avanço. “Para mitigar essa dependência, é preciso estimular novos mecanismos de capitalização doméstica e investir em pesquisa e tecnologia, desenvolvendo modelos de risco mais precisos e georreferenciados”, avalia.
O executivo reforça ainda que “o seguro agrícola e o seguro florestal caminham juntos no fortalecimento do agronegócio, mas com objetivos distintos: enquanto o agrícola protege culturas de curto e médio prazo, o florestal garante a segurança financeira de um ativo de ciclo longo e de alto valor agregado”.
Ao projetar o futuro do setor, ele conclui que “a integração entre tecnologia, sustentabilidade e seguro será determinante para o desenvolvimento das florestas plantadas no Brasil. A eficiência na gestão de riscos será o diferencial competitivo, mas o mercado só se expandirá de forma sólida quando houver um equilíbrio entre inovação, capacidade de resseguro e estabilidade institucional”.
Fonte:Seguro Rural Brasil








