Seguro paramétrico ganha destaque como solução ágil e inovadora para o produtor rural

Com a intensificação dos eventos climáticos extremos no Brasil, o campo vive sob constante ameaça. Para os produtores rurais, a imprevisibilidade do clima representa um risco direto à produção e à sustentabilidade financeira. Nesse cenário, o seguro paramétrico tem ganhado espaço como uma solução inovadora para proteger quem vive da terra. Mais do que uma alternativa ao seguro tradicional, ele se apresenta como uma ferramenta estratégica de mitigação de riscos climáticos, com potencial de abrir novas frentes para o mercado de seguros.

 

Fábio Damasceno, diretor técnico de seguro rural da MAPFRE, explica que o diferencial do seguro paramétrico está na forma de acionamento da cobertura. “A principal característica desse tipo de seguro é que sua ativação ocorre com base em indicadores mensuráveis, como níveis de precipitação, temperatura ou velocidade do vento. O pagamento é acionado quando um limite pré-estabelecido (gatilho) é atingido ou superado, e inicia-se o pagamento de indenização, dispensando a necessidade de inspeção física dos danos no local.”

 

Na prática, o recurso oferece cobertura para uma série de riscos climáticos que afetam diretamente a produção no campo, como seca, excesso de chuvas, geadas, frio intenso, granizo e vendavais. Todos esses eventos têm impacto direto na produtividade e na qualidade do setor, e muitas vezes não são contemplados integralmente pelos modelos tradicionais de seguro agrícola. Além da proteção em si, um dos principais benefícios para o produtor é a agilidade. Como este ramo depende de dados climáticos oficiais para a verificação dos gatilhos, a indenização é liberada rapidamente, melhorando o fluxo de caixa do produtor e reduzindo a burocracia envolvida. 

 

Outro aspecto importante é a objetividade do processo. Não há necessidade de vistoria no meio rural, o que reduz os custos operacionais tanto para o produtor quanto para a seguradora, além de evitar divergências na avaliação dos danos. O modelo também permite personalizar a apólice de acordo com a realidade de cada produtor, considerando o ciclo de produção, as características regionais e os riscos mais relevantes para a lavoura. “A apólice pode ser adaptada às necessidades específicas de cada negócio, definindo períodos e parâmetros como temperatura ou índices de precipitação que mais afetam a produção”, afirma o especialista.

 

Apesar das vantagens, a adoção do seguro paramétrico no Brasil ainda enfrenta desafios. Um dos principais obstáculos está relacionado com a infraestrutura de indicadores climáticos, que precisa ser robusta, confiável e acessível. Os parâmetros usados nas apólices devem ter origem em fontes oficiais e metodologias amplamente reconhecidas, o que nem sempre está disponível em todas as regiões do país. “Temos também o desafio do conhecimento do produto e dos parâmetros, por todos os stakeholders do mercado, o que exigirá um amplo trabalho de divulgação e capacitação”, ressalta Damasceno.

 

Além disso, um ponto sensível que precisa ser considerado é o chamado “risco de base”, que ocorre quando os parâmetros climáticos não refletem exatamente as perdas ocorridas em uma determinada propriedade. Pode haver casos em que o produtor sofre prejuízos relevantes, mas o índice contratado não atinge os parâmetros necessários para acionar o pagamento. “Esse desafio dependerá da capacidade das empresas seguradoras correlacionarem adequadamente os parâmetros, riscos e perdas”, reflete o especialista da MAPFRE.

 

Existe ainda uma percepção equivocada no mercado sobre o custo desse tipo de seguro. Segundo o executivo, há quem acredite que o paramétrico seja necessariamente mais barato que o tradicional, o que nem sempre é verdade. “O custo é proporcional ao nível de proteção e gatilho. Outro ponto é que as leis e regras atuais não estão totalmente preparadas para esse modelo, o que pode gerar insegurança para quem contrata ou oferece o serviço.”

 

Do ponto de vista do mercado segurador, o seguro paramétrico também representa uma oportunidade de expansão, já que trata-se de um produto que pode ser oferecido em regiões e culturas onde o seguro tradicional enfrenta limitações. “É um produto que traz a possibilidade de se ofertar uma ferramenta de mitigação de risco para regiões onde é cada vez mais difícil de se ofertar seguros tradicionais, para produtores que não se enquadram em alguns limites mínimos dos produtos atuais.”

 

O diretor técnico ainda destaca a possibilidade de integração entre os modelos, criando soluções híbridas que combinem seguro convencional de produtividade com o paramétrico, fornecendo uma camada extra de proteção. “Por ser um produto completamente customizado ao produtor, aqui também surge a oportunidade de se ofertar coberturas para grandes produtores que também tem uma menor aderência aos produtos comercializados, bem como para empresas do setor mitigar seus riscos de carteira.”

 

Dessa forma, apesar de promissor, o seguro paramétrico não deve ser visto como solução única para todos os problemas do seguro agrícola. Ainda assim, sua implementação representa um avanço significativo no processo de modernização do seguro rural no Brasil, alinhado às novas tecnologias, à análise de dados climáticos e à personalização das soluções para o campo. Com investimentos em educação, infraestrutura de dados e regulação adequada, essa proteção securitária pode ganhar espaço e se consolidar como um aliado fundamental para o agronegócio brasileiro e para os profissionais do setor de seguros que desejam inovar.

 

“O Seguro Paramétrico é uma interessante ferramenta para ampliação da cobertura de seguros para o produtor rural, mas não podemos tratar esse produto como uma “Bala de prata”, “Salvação da Lavoura”, ou outras terminologias que imprimam essa responsabilidade ao produto, de resolução de todos os Gaps existentes no seguro agrícola tradicional”, conclui Damasceno. 

 

Fonte: CQCS