A Toyota anunciou na última sexta-feira vai retomar gradualmente a produção de automóveis nas fábricas de Sorocaba e Indaiatuba, no interior de São Paulo, interrompida pelo temporal que destruiu no dia 22 de setembro a linha de produção de motores em Porto Feliz (SP).
Enquanto Corolla Cross e Corolla Sedan voltam a ser fabricados, inicialmente apenas nas versões híbridas, com motores importados do Japão, a unidade de Porto Feliz continua parada por tempo indeterminado. Relatos apontam que mais de 90% das instalações foram destruídas. Mas quanto vai custar para colocar a fábrica novamente em pé?
De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de Itu, que atende a região de Porto Feliz, a parte estrutural da fábrica “foi abalada e provavelmente o recinto terá de ser reconstruído totalmente”. O sindicato explica, ainda, que a reconstrução deve ser planejada de maneira seriada e a previsão de retomada produtiva total fica apenas para 2026.
A fábrica de motores da marca japonesa no interior de São Paulo foi inaugurada em 2016 ao custo de R$ 580 milhões e com capacidade para produzir 170 mil motores por ano. À época, produzia os propulsores 1.3 e 1.5 aspirados para o compacto Etios, vendido no Brasil e Argentina, além de Peru e Uruguai – depois usada na gama do Yaris, descontinuado no Brasil e que seguia sendo produzido em Sorocaba para exportação.
Anos depois, Porto Feliz recebeu outro aporte, dessa vez de R$ 600 milhões, para a produção do 2.0 Dynamic Force aspirado e bicombustível que atualmente equipa a linha Corolla – esse motor será importado de outras fábricas da Toyota para a produção das versões convencionais, a partir de janeiro do ano que vem.
Seguro deve custear reconstrução
A linha de produção de propulsores é coberta por seguro, cuja indenização servirá para custear as obras de reconstrução.
Marcelo Gil Orlandini, presidente da Comissão de Riscos Patrimoniais Grandes Riscos da FenSeg (Federação Nacional de Seguros Gerais), explica que a etapa inicial para requerer reembolso em caso de sinistro funciona como a de um seguro automotivo.
Primeiramente, é necessária a comunicação oficial do sinistro pelo cliente à seguradora. Em seguida, a seguradora pode solicitar laudos para confirmar a ocorrência do evento no local, utilizando dados de estações meteorológicas ou de empresas especializadas.
“Em desastres de grande repercussão, como o da fábrica da Toyota, essa comprovação pode ser dispensada pela notoriedade do evento”, aponta Orlandini.
Após a comunicação, a seguradora direciona uma empresa especializada em regulação de sinistros ao local. Essa companhia realiza a apuração completa dos prejuízos, identificando todos os bens danificados que precisam ser substituídos ou indenizados.
“A avaliação abrange tanto os danos materiais à estrutura do prédio (construção) quanto ao maquinário, matéria-prima e produtos acabados, desde que estejam previstos no escopo da cobertura contratada’, detalha.
Outro tipo de cobertura também pode constar da apólice contratada. Chamada de “Lucros Cessantes”, é um mecanismo financeiro calcular o impacto da paralisação nas operações.
Nesse caso, é analisada a perda de lucro líquido, a queda de receita e as despesas fixas que a empresa continua tendo durante o período de inatividade.
“O objetivo principal é restabelecer as operações do segurado o mais rápido possível, minimizando não apenas os prejuízos financeiros diretos, mas também a perda de mercado para concorrentes”, diz.
Seguro cobre fenômenos climáticos?
Segundo a Defesa Civil de São Paulo, a fábrica de Porto Feliz (SP) sofreu uma microexplosão atmosférica.
Orlandini comenta que os seguros industriais são personalizáveis, elaborados caso a caso e que estabelecem uma cobertura básica obrigatória que ampara danos de incêndio, queda de raio e explosão.
“Coberturas para fenômenos climáticos, como vendaval, ciclone, tornado, granizo, alagamento e inundação, fazem parte de um conjunto de coberturas adicionais que precisam ser especificamente contratadas pelo segurado”, afirma.
Com eventos climáticos acontecendo de maneira mais usual e gerando cada vez mais prejuízos no Brasil, o presidente da comissão da FenSeg aponta que há um aumento na procura por coberturas mais amplas e pela elevação dos limites de indenização contratados para se adequarem a riscos maiores.
E o maquinário? O representante da FenSeg que apólices podem cobrir danos ferramentais, mas chama atenção para duas modalidades principais de seguro para grandes riscos: Riscos Nomeados e Riscos Operacionais (conhecida como “All Risks”).
No primeiro, as coberturas são listadas individualmente. O dano ao maquinário causado por um vendaval, por exemplo, estará coberto se a apólice incluir a cobertura deste evento climático.
Já no seguro “All Risks”, que cobre tudo exceto o que está expressamente excluído, há uma particularidade importante. O dano ao maquinário causado por um vendaval só estará coberto se o segurado tiver contratado a cobertura adicional de “Quebra de Máquinas”.
Sem essa cobertura específica, apenas a estrutura civil e o conteúdo geral (como matéria-prima e produtos já manufaturados) seriam indenizados pelo evento de vendaval, mas não o maquinário danificado.
“Para uma indústria de grande porte, é praticamente impensável não incluir a cobertura de Quebra de Máquinas”, alerta.
Quanto vai custar reconstrução?
Por fim, Orlandini diz que é difícil estimar o prejuízo e os valores para reconstruir a planta destruída. O montante de mais de R$ 1 bilhão gasto na construção e expansão há dez anos, hoje custaria ao menos o dobro para construir novamente, de acordo com as correções monetárias vigentes.
O especialista, por sua vez, afirma que a “reconstrução da parte de engenharia civil costuma ser relativamente rápida, devido aos materiais e técnicas de construção modernos”.
Ele aponta qual é o grande desafio da Toyota.
“Reposição do maquinário. Muitas vezes, são equipamentos importados, como máquinas japonesas ou de outros mercados internacionais, que não estão disponíveis para pronta entrega. É preciso encomendar, aguardar a fabricação e depois transportar para o Brasil”, finaliza.
Fonte: UOL