Com nova regulação à vista, empresas do mercado de seguros apostam em inovação e eficiência

Com a entrada em vigor do novo Marco Legal dos Seguros, prevista para dezembro de 2025, e em meio a um ambiente econômico mais desafiador, as principais seguradoras do país já traçam estratégias para 2026, com foco na disciplina técnica, inovação, digitalização e na centralidade do cliente. O cenário atual exige mais do que adaptação regulatória: é preciso ampliar a base de clientes segurados e reduzir a lacuna de proteção no país, onde apenas 3% do Produto Interno Bruto (PIB) é coberto por seguros (excluindo saúde), frente a uma média de 8% nos países europeus.

Segundo o ranking Valor 1000, publicado pelo Valor Econômico, os grandes destaques de 2025 foram o Grupo Bradesco, a SulAmérica e o Grupo Porto, líderes nos segmentos de seguros, resseguros e capitalização. Essas empresas demonstraram capacidade de adaptação diante das transformações tecnológicas e regulatórias que impactam o setor.

“Tivemos avanços importantes em várias frentes no primeiro semestre de 2025, como planos de saúde regionais, crescimento em seguros de vida e prestamista, além de expansão em ramos elementares como condominial, empresarial e habitacional”, afirma Ivan Gontijo, presidente do Grupo Bradesco. Ele também destaca um retorno médio sobre o patrimônio líquido acima de 20% e a melhora significativa do índice combinado, reflexos da eficiência operacional e da disciplina técnica. Para 2026, a companhia aposta em diversificação e inovação, com ênfase em previdência, vida individual, soluções para pequenas e médias empresas (PMEs) e coberturas relacionadas a riscos climáticos e digitais. “Temos buscado crescer de forma estratégica, priorizando parcerias que fortaleçam nosso ecossistema de proteção, sempre com sustentabilidade e inovação”, completa Gontijo.

Na vice-liderança da lista, a SulAmérica tem concentrado suas ações para reforçar a digitalização como pilar estratégico, tendo o cliente como seu principal foco. “O primeiro semestre de 2025 foi de consolidação e crescimento consistente, com eficiência operacional e expansão da base de negócios. Para o segundo semestre, o foco é elevar a eficiência e acelerar ofertas inovadoras e customizadas”, afirma o CEO Marcelo Mello. A seguradora projeta para o próximo ano uma atuação ainda mais integrada, com soluções voltadas a empresas que combinam vida coletivo, saúde e odontologia. “O arranjo fortalece também a atuação consultiva dos corretores e dialoga com a tendência de ecossistemas de bem-estar e experiências unificadas na jornada do cliente”, ressalta Mello.

A Porto Seguros encerrou o primeiro semestre de 2025 com R$ 5,4 bilhões em receitas e prêmios, impulsionada por um crescimento de 17% no segmento de vida e 6% nos patrimoniais, além da inclusão de 165 mil veículos à sua frota segurada. “Estamos ampliando o acesso à proteção com soluções para diferentes perfis de clientes. A Azul Seguros é parte essencial dessa estratégia, voltada a públicos que ainda não têm acesso ao seguro”, explica o CEO da empresa, Rivaldo Leite. A companhia também aposta fortemente no App Porto, que já conta com mais de quatro milhões de usuários ativos, e em produtos de entrada como alavancas para cross-selling. “O corretor segue como protagonista, promovendo uma experiência consultiva e multicanal”, acrescenta Leite. Em 2026, o foco estará na expansão regional, intensificação das soluções digitais e ampliação da oferta de produtos acessíveis.

Outras seguradoras também se destacaram neste ano. A Tokio Marine avançou uma posição no ranking do Valor, em comparação com a última edição, e atingiu R$ 7 bilhões em faturamento no primeiro semestre, alta de 9%. A empresa manteve liderança em seguros de automóveis e apresentou crescimento expressivo em seguros patrimoniais e de pessoas. “O seguro condomínio cresceu 57%; o fiança locatícia, 36%; e o residencial, 12,5%”, detalha o CEO José Adalberto Ferrara. Com investimento anual de R$ 140 milhões em tecnologia, a Tokio Marine lançou neste ano o seguro de M&A, voltado a operações de fusões e aquisições. “Nossa estratégia está ancorada em adaptação ao cenário regulatório e climático, diversificação do portfólio, transformação digital e sustentabilidade”, afirma. A previsão para 2026 inclui maior acessibilidade em apólices de veículos, pessoas, empresarial e garantia.

A Allianz Seguros, por sua vez, apresentou um desempenho acima da média do mercado, registrando, pela primeira vez, mais de R$ 1 bilhão em prêmios em um único mês. “O forte crescimento é resultado direto do projeto de transformação que conduzimos desde 2024, redesenhando estruturas, acelerando a digitalização e fortalecendo parcerias estratégicas”, explica o presidente Eduard Folch. A seguradora aposta na diversificação de produtos, com foco em patrimoniais, agro e massificados, na expansão geográfica para os estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, e na multiplicidade de canais, mantendo o corretor como prioridade, mas explorando também cooperativas e parcerias no agronegócio. A meta é dobrar a receita até 2027.

O grupo HDI, que consolidou a marca Yelum após a aquisição da Liberty Seguros, também colheu frutos da integração com a HDI Global. “Esse movimento fortaleceu nossa atuação em grandes riscos e ampliou a presença em novas regiões e canais”, afirma o CEO Eduardo Dal Ri. Entre os principais lançamentos estão o seguro Yelum Bike Segura, a ampliação das coberturas de vida e a flexibilização do seguro auto. A empresa também reforçou sua assistência própria, a Fácil Assist, o que elevou os índices de satisfação de clientes e corretores. “Para 2026, vamos manter foco em personalização, inovação e tecnologia, sempre ouvindo de perto nossos públicos”, complementa.

A espanhola MAPFRE, cuja operação no Brasil é a segunda maior do grupo no mundo, também teve desempenho relevante em 2025. “Tivemos avanços expressivos em riscos industriais e massificados. No agro, apesar dos desafios de crédito e juros, já vemos sinais de recuperação. Em vida, seguimos comprometidos em democratizar a cobertura”, afirma Felipe Nascimento, CEO da MAPFRE Brasil. Atualmente, a companhia investe em produtos sustentáveis, seguros modulares de automóveis e soluções voltadas para PMEs. Além disso, a parceria com o Banco do Brasil é considerada estratégica por sua capilaridade e complementaridade de canais. “Além de multiproduto, a MAPFRE é também multicanal, justamente para estar presente onde os clientes estão e da forma como preferem ser atendidos”, conclui o executivo.

No segmento de resseguros, o IRB (Re) vive um momento de retomada, com resultados expressivos no primeiro semestre. “Entregamos R$ 262 milhões de lucro líquido nos seis primeiros meses, 82% acima do mesmo período de 2024. A carteira de seguros patrimoniais, nosso principal negócio, cresceu 15% no segundo trimestre de 2025 e 20% nos últimos 12 meses, com índice combinado próximo do que consideramos adequado”, afirma o CEO Marcos Falcão.

Já o setor de capitalização arrecadou R$ 16,9 bilhões nos seis primeiros meses do ano, com alta de 12%. O setor tem ganhado força como garantia em operações de crédito, contratos públicos e parcerias público-privadas (PPPs). “A modalidade tem atraído novos públicos e despertado interesse internacional”, afirma Denis Morais, presidente da Federação Nacional de Capitalização (Fenacap).

Em um contexto onde o setor de capitalização se destaca cada vez mais como uma ferramenta estratégica em diversas operações financeiras, a Bradesco Capitalização continua a consolidar sua influência no mercado. “A liderança da Bradesco Capitalização em 2024 reflete uma trajetória de mais de quatro décadas com propósito e visão de futuro”, afirma o diretor-presidente José Pires. A empresa expandiu suas ofertas digitais para pessoas físicas, com o lançamento de mais de dez produtos em 2025. Segundo Pires, os títulos de capitalização deixaram de ser apenas uma forma de poupança programada e passaram a ser utilizados como ferramentas estratégicas de negócios, permitindo sorteios atrelados a produtos e serviços, estímulo à adimplência e fortalecimento de programas de relacionamento.

Apesar do avanço das lideranças e da transformação tecnológica em curso, o setor como um todo ainda enfrenta grandes desafios. Segundo Dyogo Oliveira, presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), os desastres ambientais impõem ao setor um desafio diário. “As mudanças climáticas deixaram de ser um alerta distante para se tornarem um desafio concreto, diário e crescente. O setor de seguros está na linha de frente desse impacto e, por isso, a CNseg atua para ampliar a cobertura, fomentar a criação de soluções inovadoras e fortalecer a resiliência econômica, climática e social do país”, afirma. Entre as iniciativas destacadas pela entidade estão a proposta de criação do Seguro Social contra Catástrofes – que prevê indenizações rápidas para famílias vulneráveis afetadas por desastres climáticos; o incentivo a green bonds para infraestrutura resiliente e a formação de um Hub de Inteligência Climática para apoiar seguradoras no desenvolvimento de novos produtos.

Fonte: CQCS