A inteligência artificial (IA) e o avanço de novas tecnologias têm impulsionado mudanças significativas no mercado de seguro auto, que registrou um crescimento de 5,9% entre janeiro e maio de 2025. Durante o período, o setor arrecadou R$ 24 bilhões em prêmios e desembolsou R$ 14,4 bilhões em indenizações, revelam os dados divulgados pelo Valor Econômico.
Sob essa perspectiva, a inovação tem sido um dos principais motores do desempenho das seguradoras líderes do segmento, entre elas, Porto Seguro, Tokio Marine, Allianz, Bradesco, Yelum e HDI, e tem contribuído para um ritmo de crescimento anual de arrecadação na casa dos dois dígitos.
Na Tokio, por exemplo, o processo de indenização por perda total, que antes levava até dois dias, agora pode ser concluído em poucos minutos, graças à automação dos processos. “O tempo de o cliente fotografar, enviar as fotos e nosso software analisar”, conta Marcelo Goldman, diretor-executivo de Produtos Massificados da seguradora.
Outras empresas do segmento também vêm registrando ganhos de eficiência através da adoção de tecnologias baseadas em Inteligência Artificial. A Bradesco Auto/RE conseguiu reduzir em até dez dias o prazo para pagamento de indenizações a veículos de carga, utilizando imagens enviadas pelos clientes combinadas com softwares de análise. “Às vezes, a foto do painel mostra alguma luz acesa que nos chama a atenção, pode apontar algum acidente não reportado. Isso agiliza a análise do sinistro”, explica Saint Clair Pereira Lima, diretor Técnico e de Produtos da Bradesco Auto/RE.
Na Porto Seguro, o uso do recurso também é parte essencial das operações. A tecnologia é aplicada em diversas etapas, principalmente para a análise de imagens para identificação de danos nos veículos. “A análise ficou muito mais ágil. Cerca de 75% dos nossos sinistros já têm algum tipo de inteligência artificial apoiando meu time. A IA é quase um copiloto para nossos analistas”, relata Patrícia Chacon, diretora de Operações da Porto Seguro.
Segundo Keila Farias, vice-presidente da Comissão de Automóvel da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), essa digitalização observada no setor foi acelerada por conta da pandemia, coincidindo com o aumento expressivo de sistemas embarcados nos veículos. “A IA está em tudo: no relacionamento diário com corretores e clientes, nas operações internas e nos veículos”, destaca a executiva. “Hoje o cliente faz até vistoria prévia pelo aplicativo da seguradora. Não precisa falar com ninguém, nem levar o veículo a um posto autorizado”, completa.
Keila ainda ressalta que as tecnologias embarcadas permitem às seguradoras acompanhar em tempo real o comportamento dos motoristas, o que abriria espaço para oferecer descontos de 5% a 10% para condutores de menor risco. No entanto, a resistência dos usuários ao compartilhamento de dados ainda é um obstáculo. “A maioria não autoriza o monitoramento remoto, com medo de perder privacidade. Precisamos criar uma cultura de confiança.”
Para mitigar o risco de acidentes, as seguradoras reconhecem a importância dos Sistemas Avançados de Assistência ao Condutor (ADAS, na sigla em inglês). Contudo, essas empresas ainda não conseguem oferecer descontos para modelos que contam com o recurso, já que veículos com Adas têm peças de maior valor, encarecendo a assistência.
Os elétricos são um desafio ainda maior, devido a diferença na mecânica e as peças ainda não estarem facilmente disponíveis. Nestes casos, até o guincho precisa ser treinado para socorrer um veículo elétrico. “É preciso uma rede de oficinas e de assistência 24 horas capacitadas para atender veículos elétricos”, conta Fábio Morita, diretor-executivo de Automóvel, Massificados e Vida da Allianz Seguros.
Uma das particularidades do seguro automotivo é lidar com uma ampla variedade de variáveis. Como resultado, o tradicional questionário utilizado para realizar o seu orçamento tem se tornado mais extenso a cada ano, fazendo com que os corretores precisem efetuar a cotação em várias seguradoras, cada uma com seus próprios critérios e modelos de análise.
Esse cenário contribuiu para a consolidação das plataformas de multicálculo online, ferramentas que funcionam de maneira parecida com os aplicativos de busca de hotéis, onde o corretor insere os dados do cliente e o sistema apresenta as cotações mais adequadas entre diferentes seguradoras. Para Fernando Rodrigues, diretor executivo da unidade de Seguros da Dimensa, responsável pela Quiver, aproximadamente 70% dos profissionais do mercado de seguros já fazem uso desse tipo de tecnologia. “Já temos 22 mil corretores de todo o país em nossa base e estamos crescendo de 16% a 20% a cada ano.”
Fonte: CQCS