O setor de seguros e planos de saúde tem apostado na inovação como forma de enfrentar riscos cada vez mais complexos. Segundo matéria do Valor Econômico em 20 de agosto, o cenário é ambíguo: de um lado, o envelhecimento da população, a judicialização e a maior complexidade assistencial pressionam por uma revisão dos modelos tradicionais de saúde; de outro, o setor registra crescimento, bate recorde de beneficiários e, em 2024, alcançou o menor índice de sinistralidade desde 2018, um contraste que expõe desafios estruturais ainda significativos.
“O que temos hoje é uma realidade paradoxal. O acesso, por vezes, ainda é fragmentado, burocrático e ineficiente. Isso compromete o atendimento e gera desperdícios que afetam o sistema como um todo. É nesse ponto que a inovação se torna decisiva. Ela tem o potencial de transformar esse cenário, trazendo soluções mais inteligentes e sustentáveis”, afirmou Frederico Peret, diretor-presidente da Unimed-BH, vencedora no segmento de planos de saúde e seguros da pesquisa Valor Inovação Brasil 2025, seguida por OdontoPrev, Athena Saúde, SulAmérica Seguros Saúde e Junto Seguros.
De acordo com o Valor Econômico, seguros patrimoniais e de vida, o desafio é adaptar-se a novas regulamentações e integrar alternativas que unam seguradoras, empresas e governos na mitigação de riscos e adaptação da infraestrutura diante de catástrofes. Em 2024, as perdas globais com desastres naturais atingiram US$320 bilhões, sendo US$137 bilhões segurados, segundo a corretora Aon. No Brasil, apenas as enchentes no Rio Grande do Sul causaram perdas superiores a R$100 bilhões, mas como poucos tinham seguro, apenas R$6 bilhões foram pagos em indenizações.
“A inovação é uma aliada fundamental na construção de uma economia sustentável, e as seguradoras oferecem proteções que vão da preservação da vida à reconstrução de infraestruturas afetadas por eventos climáticos. Esse cenário exige uma nova mentalidade sobre o gerenciamento de riscos”, ressaltou Dyogo de Oliveira, presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg).
Investimentos em inovação
A Unimed-BH, líder do setor, destina de 1% a 5% da receita líquida para inovação. A empresa mantém um fundo de R$60 milhões, em parceria com a Abertta Saúde e a ArcelorMittal, para investimento em startups. “A inteligência artificial [IA] tem colocado no radar possibilidades concretas para superar desafios históricos do setor de planos e seguros de saúde, como o acesso, os altos custos assistenciais e a fragmentação do cuidado”, destacou Peret ao Valor Econômico.
A operadora já realizou mais de 2 milhões de teleconsultas, tem plataforma digital com 5,1 mil médicos cooperados e opera mais de 30 modelos de IA, além de outros 20 em desenvolvimento. Estruturou ainda o Horizontes Hub, espaço físico e digital voltado a laboratórios de experimentação tecnológica, e lançou o programa Juntos Inovamos, que mobiliza mais de 5 mil colaboradores.
Na OdontoPrev, segundo o Valor Econômico, o investimento em tecnologia superou R$88 milhões em 2024, com foco em digitalização, automação e IA. “Esses valores foram direcionados, sobretudo, ao aperfeiçoamento da nossa infraestrutura e otimização de processos na nossa plataforma tecnológica proprietária, permitindo importantes ganhos em satisfação dos beneficiários”, pontuou Renato Costa, CIO, CMO e CSO da empresa.
Entre as soluções, destacam-se o OdontoToken, para validação digital de procedimentos, o agenciamento digital com mais de 20 mil adesões e o uso de IA generativa para estimar consumo e custos. A plataforma Busca de Rede atingiu 90% de assertividade na indicação de especialidades odontológicas. Outro projeto, o Sorria+, conecta clientes a dentistas e promove ações de saúde bucal para jovens em situação de vulnerabilidade.
A Athena Saúde, terceira colocada, destinou cerca de R$100 milhões à tecnologia em 2024. “A expectativa é que esse investimento aumente ainda mais nos próximos anos, refletindo uma estratégia de fortalecimento e expansão nesse setor crucial”, afirmou Breno Rios Sa, vice-presidente de tecnologia. A companhia revelou ao Valor Econômico que obteve redução de 54% nos custos de exames por consulta, telemedicina representando 11% dos atendimentos e está implantando biometria facial para validar presença em terapias e exames.
Já a SulAmérica Seguros Saúde passa por uma transformação para se tornar uma empresa digital de saúde completa. Em 2025, destinou mais de R$100 milhões à inovação. “Estamos aplicando inovação na busca pelas oportunidades estratégicas mais relevantes da companhia, que mais contribuem com o valor que geramos para nossos clientes e acionistas”, ressaltou Leonardo Fraga, vice-presidente de tecnologia.
Entre os projetos, estão o SulaDocs, que usa IA para analisar documentos em menos de três minutos, e o Sula Partner Hub, que reduziu de seis meses para até quatro semanas o prazo de integração de parceiros. A empresa explicou ao Valor Econômico que também desenvolve novo app de relacionamento, reformula portais digitais e aposta em marketplace de APIs para ampliar integração com prestadores.
Na Junto Seguros, líder em seguro garantia, mais de 30% do orçamento anual é destinado à inovação. “Enxergamos a inovação como meio de entregar a melhor experiência para parceiros e clientes. Temos a responsabilidade de criar soluções centradas em pessoas e acreditamos que esta estratégia permite nos diferenciar em um mercado que inova rapidamente”, concluiu o CEO Roque de Holanda Melo.
Segundo o Valor Econômico, a companhia já utiliza a IA Llobo, que analisa balanços, contratos e editais com precisão e rapidez, além da Apólice do Futuro, com linguagem acessível e menus interativos. Em 2024, o API Junto cresceu 35%, a plataforma de fiança locatícia aprovou R$2 bilhões em crédito e mais que dobrou o volume de emissões.
Fonte: CQCS