No Brasil, o seguro de vida é pouco compreendido e muitas vezes só valorizado quando já é tarde demais
O filósofo francês Voltaire dizia que “a incerteza é uma posição desconfortável, mas a certeza é absurda”. Quando falamos sobre o futuro, especialmente sobre a proteção da família, não há afirmação que caiba melhor. Mesmo assim, muitos agem como se a vida viesse com garantias.
No Brasil, o seguro de vida é pouco compreendido e muitas vezes só valorizado quando já é tarde demais.
Neste mês, um amigo me procurou para contratar um seguro de vida. Ele tinha feito um exame de saúde e percebeu que precisava assegurar a família. Ele já tinha boa renda e alguns investimentos, mas percebeu que não seriam suficientes para proteger a família. Entretanto, seu seguro foi recusado pelas seguradoras. Motivo? Nenhuma aceitou o risco do problema de saúde que ele acabara de descobrir. Ou seja, ele quis contratar quando já não podia mais.
No Brasil, o seguro de vida é mal compreendido, mal usado e, muitas vezes, mal vendido. Frequentemente, é empurrado como ferramenta de troca em pacotes bancários – quase uma venda casada- , não como parte de um planejamento patrimonial. Acaba sendo visto como custo acessório, não como instrumento essencial de proteção e alavancagem.
O preconceito é alardeado, em parte, por quem nunca precisou. Assim como há quem nunca tenha feito seguro de carro por nunca ter batido ou sido roubado, muitos desprezam o seguro de vida por nunca terem enfrentado uma perda ou um imprevisto financeiro grave. Só que, diferentemente de um carro, a vida não tem peça de reposição.
Imagine um jovem casal em que apenas um dos cônjuges sustenta a casa. Esse amigo tem 35 anos e um filho de um ano. Com uma renda familiar de R$ 15 mil, é fácil estimar que pelo menos um terço – ou R$ 5.000 mensais- vá para as despesas básicas dessa criança: escola, saúde, alimentação, moradia. Para garantir esses custos até os 24 anos do filho, o valor presente necessário seria em torno de R$ 750 mil.
Agora imagine que, por R$ 1.100 mensais, esse pai pudesse contratar um seguro que garantisse o dobro desse valor e ainda pudesse servir como reserva de valor blindada e para a sucessão. Sim, ele pode resgatar no futuro a soma de todas as contribuições corrigidas e com retorno. Esse instrumento existe.
E, mais importante do que o valor final, ele garante algo que poucos investimentos proporcionam: a disciplina. Porque o boleto chega. E, enquanto a fortuna ainda não foi construída, o seguro já entrega um patrimônio protegido desde o primeiro mês.
Muitos pais que me procuram dizem querer montar uma reserva para os filhos para pagar uma faculdade ou deixar um começo de vida. Mas não percebem que o melhor caminho pode não ser guardar dinheiro pouco a pouco, mas, sim, usar uma ferramenta que alavanque o patrimônio enquanto ele ainda é pequeno.
Sim, é verdade que, se ao longo desses 23 anos nada acontecer e o pai aplicar o valor do seguro num bom investimento, ele pode terminar com mais. Mas esse “se” é a incerteza de que Voltaire nos lembra. E, se o objetivo é proteger a família, a lógica não deve ser maximizar o lucro, mas garantir que, na pior hipótese, eles estarão bem.
A vida não dá aviso prévio. E, quando o inesperado acontece, não há investimento que se monte da noite para o dia. Seguro se faz quando se pode, não quando se quer. E quem enxerga isso antes do susto transforma o cuidado em patrimônio.
Fonte: Folha.com | Últimas Notícias