Como a carta de Trump afeta o setor de seguros brasileiro?

A carta de Donald Trump para o presidente Lula já foi comentada de todas as formas, sob todos os ângulos, no Brasil e no exterior. Assim, analisá-la está fora do escopo do artigo. Cabe apenas dizer que foi dos mais lamentáveis passos dados numa longa relação entre duas nações que pelo tamanho do território e população têm peso no mundo e mais ainda nas Américas.

Pretender comparar o poder econômico, tecnológico e militar de Brasil e Estados Unidos é completamente sem sentido. Não há como. De um lado está a nação mais poderosa do planeta. Do outro, um país emergente. De um lado o player mais vigoroso no jogo econômico internacional. De outro uma nação com peso nos mercados de commodities, especialmente agroindústria e mineração. Qualquer tentativa de enfrentamento direto pelo Brasil seria um completo suicídio. Mas isso não significa que o País deva se curvar à vontade do presidente americano e aceitar os disparates elencados por ele para justificar uma tarifa de 50% para todos os produtos brasileiros.

Diz uma antiga brincadeira de adolescentes que “foi com paciência e com jeito que o Juquinha convenceu a professora”. O Brasil tem de atuar com a competência do Juquinha e encontrar os argumentos adequados para sensibilizar o presidente americano, sabidamente um homem vaidoso, que gosta de elogios e salamaleques. Não foi por outra razão que o primeiro-ministro de Israel escreveu uma carta, indicando o presidente Trump para o Prêmio Nobel da Paz.

O caminho é por aí, mas, enquanto as coisas ficam como estão, temos de conviver com os estragos que um absurdo como a taxação de 50% sobre as exportações brasileiras pode causar na nossa economia. É verdade que vários produtos com componentes brasileiros ficarão mais caros para os americanos.

O Brasil tem de encontrar os argumentos adequados para sensibilizar o presidente americano, sabidamente um homem vaidoso, que gosta de elogios e salamaleques Foto: Alex Brandon/AP

Mas o peso das duas economias, uma na outra, não pode ser comparado. Nesta briga quem perde mais é o Brasil. A nosso favor, temos que os Estados Unidos são antes de tudo pragmáticos e que não tem sentido as coisas evoluírem para o pior. Por isso, como dizia Orestes Quercia, muita cautela, caldo de galinha e competência nessa hora.

O desenrolar do drama está mapeado e vários setores dão como certas perdas significativas em seus negócios. Entre as atividades que podem ser prejudicadas, o setor de seguros não é o mais comprometido, mas também deve ser afetado.

As consequências das tarifas, começando pelo risco de aumento da inflação e desvalorização do real, afetam o desempenho do mercado. Mas as ameaças são maiores, passam pela desaceleração da economia brasileira – inclusive o agronegócio -, que ficará sujeita ao aumento dos preços de insumos e equipamentos importados, essenciais para o seu funcionamento. Além disso, num quadro de esfriamento da atividade econômica, o aumento do desemprego é um fator a ser considerado. Ele tem impacto nos seguros de pessoas e planos de saúde privados. E a queda das exportações, em complemento à redução da atividade industrial, significa também a redução das operações de transporte. Ou seja, boa parte dos produtos de seguros correm o risco de não performarem de acordo com as previsões.

Fonte: Economia & Negócios – Estadão