Tragédias climáticas recentes expõem a fragilidade das empresas diante de riscos extremos. Para o especialista Wilson Saliba, seguro é investimento em continuidade — não despesa acessória
No final de 2023 e início de 2024, o Brasil e o mundo foram palco de eventos ambientais devastadores que pressionaram governos, desorganizaram cadeias produtivas e impuseram perdas bilionárias a empresas de todos os portes. As enchentes históricas que atingiram o Rio Grande do Sul em maio de 2024, o colapso provocado pelas chuvas em Petrópolis e no litoral paulista no final de 2023, os incêndios florestais no Chile, as tempestades severas nos Estados Unidos e os apagões elétricos na Europa diante de ondas de calor extremo demonstraram, com clareza, que o risco climático não é mais um cenário hipotético — é o novo normal.
Frente a essa realidade, cresce a percepção de que estratégias de mitigação de riscos e estruturas sólidas de seguro patrimonial deixaram de ser opcionais. Elas são, hoje, condição de sobrevivência organizacional.
“O seguro não deve ser visto como uma despesa, mas como um instrumento estratégico essencial para a preservação do valor da empresa. Ele protege ativos, operações e reputações em cenários imprevisíveis, além de agregar conhecimento técnico em gestão e prevenção de riscos, o que, por si só, já justifica seu investimento.” afirma Wilson Saliba, referência nacional em gestão de riscos patrimoniais, prevenção de perdas e produtividade organizacional.
Uma das vozes mais respeitadas do setor
Engenheiro químico com MBA internacional e especializações na Alemanha e nos Estados Unidos, Saliba construiu sua carreira em empresas como Zurich e Allianz, onde liderou equipes técnicas e áreas de risco patrimonial em setores de alta criticidade. Foi diretor da Zurich Minas Brasil entre 2008 e 2011 e é autor de obras técnicas como Construções, Clima e Seguros (2023). Atualmente, é consultor executivo do Grupo TEMON e atua como assessor técnico de grandes grupos empresariais na estruturação de programas integrados de seguros, prevenção e continuidade de negócios.
“As enchentes no Sul deixaram milhares de empresas submersas — literalmente. Mas a tragédia real não foi a água: foi a ausência de preparação estrutural para o risco que há anos era previsto”, analisa.
Mais do que cobertura: seguro como diferencial de gestão
Para Saliba, a lógica ainda dominante no setor privado é reativa: empresas buscam seguro após a perda. Isso compromete a precificação, limita as coberturas e, muitas vezes, inviabiliza a indenização. “O seguro precisa ser visto como um vetor preventivo, articulado com diagnósticos técnicos e planos de continuidade. Quando inserido em uma cultura de gestão madura, ele gera valor, confiança e até aumento de produtividade.”
Esse ganho operacional ocorre porque a adoção de práticas de controle de risco — pré-condição para apólices robustas — leva à revisão de processos internos, eliminação de ineficiências e qualificação técnica das decisões operacionais.
“Empresas que se preparam melhor contra perdas, tendem a ser mais enxutas, mais resilientes e mais valorizadas pelo mercado”, afirma.
Risco sistêmico exige resposta estrutural
As catástrofes dos últimos meses revelam um padrão: as empresas que colapsaram não estavam expostas apenas aos fenômenos naturais, mas à ausência de governança sobre o risco. E é justamente aí que o seguro patrimonial moderno atua — como pilar complementar a estruturas internas sólidas, com foco em prevenção, rastreabilidade e recuperação eficiente.
Saliba recomenda que as organizações estruturem comitês internos de risco, realizem auditorias técnicas frequentes, e mantenham apólices revisadas com base em critérios objetivos de exposição e impacto potencial.
“O seguro deve estar no centro da estratégia de continuidade. Quando bem estruturado, ele reduz incertezas e transforma risco em variável controlável”, afirma.
Conclusão: o futuro pertence a quem se antecipa
O recado de Wilson Saliba ao setor produtivo é direto: em tempos de riscos climáticos e operacionais sistêmicos, não sobreviverá quem tiver ativos, sobreviverá quem souber protegê-los. E essa proteção exige método, estrutura e visão estratégica.
“Tecnologia, sustentabilidade, governança: tudo isso depende de uma base segura. Seguro patrimonial é essa base. É o que garante que um evento inesperado não destrua décadas de trabalho”, conclui.
Fonte: In Magazine