O dia 8 de março e a busca pela conscientização Celebrado como o Dia Internacional da Mulher, o dia 8 de março é uma data emblemática que marca a necessidade de conscientização mundial. Esse dia, além de valorizar o reconhecimento das conquistas históricas das mulheres, também destaca a importância premente de abordar e combater as diversas formas de violência que ainda persistem.
A violência de gênero é uma realidade persistente em todo o mundo, afetando a vida de inúmeras pessoas e demandando respostas eficazes de diversos setores da sociedade. Para o setor de seguros, é preciso abordar as complexas ramificações desse problema, seja por meio do desenvolvimento de produtos específicos, seja estabelecendo políticas internas, parcerias estratégicas e iniciativas de conscientização.
O que configura a violência de gênero?
A violência de gênero refere-se a qualquer forma de violência, discriminação ou abuso prejudicando uma pessoa, seja fisicamente, psicologicamente, sexualmente ou economicamente, devido à sua identidade de gênero e/ou orientação sexual. Essa forma de violência pode ocorrer em diversos contextos, como em relacionamentos pessoais, no ambiente de trabalho, nas ruas ou em instituições.
Em 2022, 50 mil mulheres foram vítimas de algum tipo de violência por dia
O estudo “Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil” constatou que aproximadamente 50 mil mulheres foram vítimas de algum tipo de violência por dia em 2022. De acordo com o levantamento, em média 33% das mulheres no Brasil já foram vítimas de violência física ou sexual pelo menos uma vez ao longo de suas vidas. Este dado, coletado pela primeira vez, revela uma taxa mais elevada do que a média global de 27%, conforme apurado em uma pesquisa conduzida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2021. Considerando também as ocorrências de violência psicológica, o percentual de mulheres brasileiras que já experienciaram episódios de violência aumenta para 43%.
A desigualdade reforça a persistência do problema
A desigualdade de gênero desempenha um papel significativo na perpetuação da violência contra as mulheres, pois cria um ambiente propício para o abuso e a exploração. A discriminação de gênero, tanto cultural quanto estrutural, contribui para a vulnerabilidade das mulheres, muitas vezes colocando-as em situações de desvantagem e limitando seu acesso a recursos e oportunidades. Por este motivo, apesar do recente aumento, a presença feminina em espaços corporativos e em seguros ainda é baixa, embora isso não leve em consideração a qualidade do seu trabalho e competência. Em um contexto de desigualdade de gênero, as mulheres podem enfrentar obstáculos para denunciar casos de violência, devido ao medo de retaliação, à falta de apoio social ou à descrença nas instituições.
É preciso reconhecer e abordar a desigualdade de gênero
Além das questões levantadas acima, normas culturais prejudiciais e estereótipos de gênero podem perpetuar a aceitação social da violência, tornando mais difícil a busca por ajuda e justiça. Ao reconhecer e abordar a desigualdade de gênero, as seguradoras podem desempenhar um papel fundamental na construção de um ambiente mais seguro e equitativo, fornecendo suporte abrangente e contribuindo para a prevenção da violência contra as mulheres.
Desafios inerentes à implementação do seguro
A implementação de seguros específicos contra violência de gênero se depara com uma série de desafios inerentes à complexidade desse fenômeno social. Estatísticas alarmantes evidenciam a magnitude do problema. Uma pesquisa concluiu que 25,4 milhões de brasileiras já passaram por casos de violência doméstica ou familiar. O tipo de violência mais recorrente é a psicológica (89%), em seguida a moral (77%), e a violência física (76%). As informações foram obtidas pela 10ª edição da Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, publicada pelo Instituto DataSenado em colaboração com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV). Esse quadro ressalta a urgência em oferecer soluções efetivas e a importância de um seguro que abranja proteção física, financeira e emocional para as mulheres torna-se evidente. Entretanto, a implementação desses seguros não está isenta de desafios. Questões relacionadas à confidencialidade das vítimas são um ponto sensível, exigindo cuidados meticulosos para proteger a privacidade daqueles que buscam amparo.
Seguradoras precisam superar os desafios para assegurar recursos abrangentes às mulheres vítimas de violência
Além de tudo isso, a sensibilização das seguradoras para lidar com questões delicadas e específicas de gênero é fundamental. A superação desses desafios é essencial para assegurar que as mulheres vítimas de violência tenham acesso a recursos abrangentes que não apenas as protejam em momentos de crise, mas também as auxiliem na reconstrução de suas vidas de maneira holística e empoderadora.
Seguro contra a violência de gênero
É possível pensar em um seguro que pode garantir proteção física, financeira e emocional exclusiva para as mulheres no Brasil? A partir dessa indagação, Francine Mendes Gregori, fundadora da startup Elas Que Lucrem (EQL), desenvolveu uma parceria estratégica com a Mapfre. Lançado em agosto de 2023, este inovador produto visa fornecer às mulheres uma gama de benefícios essenciais, tais como suporte jurídico, a possibilidade de até dez diárias em hotéis credenciados em casos de violência doméstica, consultas e exames médicos, além de assistência para recolocação profissional com dicas e destaque na plataforma de empregabilidade Catho, entre outros serviços. Gregori destaca a importância desse seguro, considerando que ao longo de suas vidas, as mulheres buscam constantemente por segurança, porém, lamentavelmente, são frequentemente vítimas de violência. Este cenário evidencia a urgência em proporcionar auxílio tanto em momentos difíceis quanto de maneira preventiva, por meio de consultas não apenas para elas, mas também para seus filhos. Esse seguro emerge como uma ferramenta valiosa para diminuir os desafios enfrentados pelas mulheres, oferecendo suporte diante de situações de abuso e contribuindo para a promoção da segurança e bem-estar.
A implementação bem-sucedida de seguros contra violência de gênero demanda conscientização e sensibilidade em relação às necessidades das mulheres
A compreensão da magnitude do problema, evidenciada por estatísticas preocupantes e a necessidade de abordagens inovadoras, destaca a importância de as seguradoras adotarem medidas concretas e proativas. É essencial desenvolver estratégias que visem proteger efetivamente esse grupo que continua presente em posições desprivilegiadas. Iniciativas como a da startup EQL demonstram a conscientização sobre a importância desses seguros no contexto da violência de gênero, que deve ser promovida, não apenas entre as seguradoras, mas também na sociedade em geral, a fim de quebrar estigmas e incentivar a adesão a esses programas de proteção. Portanto, a implementação bem-sucedida de seguros contra violência de gênero demanda coberturas e logísticas de operacionalização, assim como um compromisso contínuo com a conscientização e sensibilidade em relação às questões de violência. Por isso, é importante que as seguradoras tenham a capacidade de se tornarem agentes de transformação na luta contra a violência de gênero, fortalecendo sua posição como defensoras sociais e legitimando a necessidade de olhar para as angústias femininas.
Fonte: Insurtalks