O Grupo Porto (), dono de uma das maiores seguradoras do Brasil, com receita líquida de R$ 31,7 bilhões em 2023, mira aquisições regionais para fazer deslanchar sua recém-criada vertical de serviços e prolongar a série de resultados históricos. O plano é aproveitar o cenário da economia e maximizar ganhos com venda cruzada de produtos (cross-selling) e com a expansão geográfica de sua base de clientes.
Lançada em dezembro passado como a quarta vertical do grupo, a Porto Serviços é focada na operação de assistências residenciais e automotivas e terá seu desempenho divulgado a partir do resultado financeiro do primeiro trimestre de 2024.
“A nova vertical inicia sua jornada com o potencial de alavancar o volume de vendas no B2C [ao consumidor] e já tem intensificado parcerias estratégicas B2B [entre empresas] para distribuição de seu portfólio de serviços”, apontou a empresa no balanço do quarto trimestre de 2023, divulgado na terça-feira (27) depois do fechamento do mercado.
No ano passado, a companhia lucrou um valor recorde de R$ 2,26 bilhões, o dobro do registrado em 2022 (R$ 1,13 bilhão); no quarto trimestre, o lucro foi de R$ 688,9 milhões, com alta de 24% na base anual.
A rentabilidade medida pelo ROE (retorno sobre o patrimônio) alcançou 23,9% no último trimestre e 19,6% no ano inteiro.
Desde o início deste ano, o grupo é comandado por um novo CEO, Paulo Kakinoff, que liderou a companhia aérea Gol () por dez anos, até julho de 2022 e, antes, presidiu a Audi Brasil.
O executivo, que era conselheiro da Porto deste 2020, para substituir Roberto Santos a partir de janeiro.
“Foi um período intenso de vivência com um time generoso. Utilizamos os seis meses para estruturar a nossa agenda estratégica de 2024, de médio e longo prazo”, disse o executivo ao apresentar o balanço do último ano de seu antecessor, em teleconferência com jornalistas, na noite desta terça-feira (27).
BalançoPorto Seguro, vertical que responde pelos produtos de seguros, registrou crescimento de 4,3% nos prêmios no quarto trimestre na base anual(Divulgação/Porto)
Entre as quatro verticais de negócios (Porto Seguro, Porto Saúde, Porto Bank e Porto Serviços), o novo CEO citou a de serviços como uma prioridade de 2024.
“Estruturamos as empresas em quatro verticais. A de serviços é talvez o tema mais novo, mais fresco para tratar. É a que deverá receber a maior intensidade de ações e projetos ao longo do ano. É uma vertical com potencial imenso tanto de expansão geográfica quanto de diversificação de serviços”, disse.
“No ano passado, fizemos aquisição de empresas regionais. Em linha com essa visão, esse processo deve se intensificar ao longo deste ano”, antecipou Kakinoff.
Em agosto, por exemplo, a Porto Serviços comprou a Unigás, uma empresa de Campinas (no interior paulista), para ingressar no segmento de instalação e assistência técnica de sistemas de aquecimento e gás. Foi mais um passo de sua estratégia de diversificação dos negócios, que ganhou impulso com a incorporação em 2022 da CDF, empresa de terceirização de serviços diversos, de assistência a suporte digital.
Kakinoff indicou que a Porto Serviços deve ganhar escala conquistando novos mercados pelas várias regiões do Brasil, além do Sul e do Sudeste, de onde a companhia extrai a maior parte de suas receitas. O grupo terminou 2023 com uma base de 15,9 milhões de clientes e mais de 37 mil corretores parceiros.
“Vemos uma conjuntura com perspectivas positivas. Temos a redução da curva de juros e o nível de desemprego também caindo. Já a produção automotiva aponta para um crescimento significativo em relação ao ano passado, o que impacta a companhia de forma positiva, direta e material”, avaliou o CEO.
Mais carros vendidos, maior demanda por seguroCom a previsão de ter mais brasileiros comprando veículos com a necessidade de contratar um seguro, o grupo quer ampliar a oferta de serviços aos motoristas não só em São Paulo, seu principal mercado, mas em outras regiões do país, segundo o CEO.
A estimativa das montadoras é favorável à estratégia da Porto. A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) projetou, em janeiro, uma alta de 6,1% dos emplacamentos em 2024. Isso significa a adição de 2,450 milhões de veículos (automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus).
Em 2023, a Porto Seguro viu o crescimento de 12,1% nos prêmios do segmento auto em relação ao ano anterior. Isso se deu, segundo a companhia, pelo aumento de 8,1% na base de clientes e por “adequações na precificação” (reajuste da apólice). No quarto trimestre, o avanço foi de 2,7%, induzido pela expansão de 4,3% da frota segurada, o que representou um incremento de 245 mil veículos em 12 meses.
Venda cruzadaO setor de seguros como um todo trabalha com a expectativa de crescimento no ritmo de dois dígitos. A CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras), presidida pelo antecessor de Kakinoff e ex-CEO da Porto, aponta uma estimativa de expansão de 11,7% para o setor segurador em 2024.
Entre analistas do sell side que cobrem a Porto, a expectativa é que o novo CEO aumente o número de negócios por cliente, viabilizado pela otimização da venda cruzada.
“Kakinoff vê oportunidades para promover o up-selling [aumento do tíquete médio do cliente] dos produtos por meio de combos, como, por exemplo, a inclusão de seguro para celular e bicicleta quando o cliente contratar um seguro residencial”, analisou a equipe da corretora Genial, em relatório em dezembro.
A corretora observou que hoje a Porto possui uma média de 1,7 negócio por CPF e que a nove gestão tentaria ultrapassar a marca de 2 negócios por CPF, “o que teria um impacto positivo significativo no lucro”.
Para a Genial, Kakinoff terá que seguir esse caminho diante da expectativa de estagnação dos prêmios em 2024, após o processo intenso de reprecificação dos contratos nos últimos anos, especialmente diante do declínio de preços na tabela Fipe (que serve de referência para os preços médios dos veículos). Concorrentes da Porto, como a Allianz, já reduziram os preços, segundo a corretora.
“Um aspecto positivo é que a gestão da Porto está focada em alcançar resultados, evitando entrar em guerras de preços e optando por perder frotas em vez de comprometer os resultados”, mencionou a corretora no relatório.
Na B3, o grupo paulista é avaliado em R$ 17,3 bilhões, com ações que acumulam baixa de 4% neste ano, ante um desempenho negativo do Ibovespa de 1,86% no período.
Fonte: Bloomberg Línea Brasil