Desde março de 2022, o open finance, o sistema financeiro aberto, registra mais de 41,8 milhões de consentimentos ativos. São os “sim” dos clientes para a troca de determinados dados entre instituições financeiras. Com isso, os bancos podem conhecer melhor o cliente e fazer ofertas mais personalizadas. De maneira geral, o foco dos produtos e das soluções desenvolvidas ainda está na pessoa física. Por isso, convencer o público pessoa júridica a dar o consentimento ao open finance é um caminho mais longo a ser percorrido.

Essa é a avaliação de Morgana Tolentino, pesquisadora especializada no tema de open finance do Instituto Propague.

“É um projeto de longo prazo e que escolheu focar nas pessoas físicas primeiramente. Mas ainda é preciso chegar mais na pessoa jurídica porque há demandas muito específicas”, diz. “A personalização das ofertas, que é um dos objetivos do open finance, depende dos usuários permitirem o acesso aos dados. Sem uma parcela maior de pessoas jurídicas, esse nicho ainda não tem tantos benefícios”, afirma.

De acesso ao crédito a operações mais simples, open finance tenta provar seu valor

Joice Almeida Guimarães, executiva de open finance do Santander, complementa que o ecossistema, como um todo tem o desafio conjunto de educar os usuários para fazer a adesão ao open finance, o que passa por simplificar a comunicação dos beneficios e do quão seguro isso é.

Em paralelo aos desafios coletivos, os bancos têm acelerado algumas entregas focadas nas empresas.

Para o público PJ, o Banco do Brasil lançou, ainda em 2022, um painel que dá visão multibanco e que permite a consulta às movimentações das contas de qualquer instituição participante do ecossistema.

No Santander, a trilha de serviços focados em pessoa jurídica é baseada na estratégia que o banco define como “conveniência de ponta a ponta”. Isso permite desde a consulta de saldo de outras instituições, realizar a iniciação de pagamentos com saldo de outros bancos (ITP), e realizar operações multibanco via ERP (softwares de gestão empresarial).

Fazer pix usando saldo em contas de outros bancos chega aos clientes PJs do Santander

“O acesso aos dados dá duas possibilidades: trabalhar de maneira massiva para um grupo ou hiperpersonalizar a abordagem. O Santander adotou a segunda linha. Todas as áreas do banco são incentivadas a usar os dados do open finance para que os beneficios mais específicos cheguem e para que a experiência seja contextualizada” detalha Guimarães.

A fintech Pluggy oferece serviços que facilitam o acesso de outras fintechs a dados do open finance. O seu cofundador, Bruno Loiola, explica que em um caso uma fintech conseguiu aumentar em 50% a concessão de crédito para pequenas e médias empresas.

“Antes dos consentimentos, toda a análise era feita através de bureau de crédito e de algoritmos próprios. Trazendo os dados do open finance e aplicando nosso sistema de inteligência, essa fintech conseguiu aumentar a capilaridade e a rapidez para dar capital de giro para quem antes tinha dificuldade de comprovar sua capacidade de pagamento”, comenta.

O Mercado Pago também agilizou a concessão de crédito a partir da troca de dados. Hoje, 80% do crédito a novos vendedores da plataforma Mercado Livre é concedido a partir do histórico compartilhado via open finance. Com 2,4 milhões de consentimentos ativos até novembro, a fintech avalia que 2023 foi o “ano do uso dos dados”.

“Conhecendo o histórico de pagamento do vendedor recém-chegado conseguimos ser mais assertivos na classificação de risco. É esse rating do cliente que determina as taxas sobre o crédito e o parcelamento para o pagamento. Sem o histórico, talvez demorássemos mais para a tomada da decisão, pois dependeríamos exclusivamente da atividade do cliente na plataforma de vendas”, explica Patrícia Leal, diretora de inovação em pagamentos do Mercado Pago.

Para o neobanco, esse é um exemplo de valor trazido pelo open finance que é facilmente identificado pelo cliente, especialmente o PJ. A fintech, aliás, acaba de receber uma linha de financiamento privado de subsidiárias do Citi, no valor de US$ 237 milhões, para ampliar a capacidade de crédito a consumidores, empresários e pequenas empresas no Brasil.

Na avaliação de Patricia Leal, com a nova resolução sobre a renovação de consentimentos, os esforços para a conquista dos clientes serão melhores direcionados. “Trazer consentimentos continua sendo um dos nossos principais esforços, mas com a permissão do cliente podendo durar mais de 12 meses, vemos uma janela importante para diminuir atritos na conversa e avançar na personalização. É energia sendo investida, de fato, no melhor relacionamento com o usuário”, sustenta.

Tolentino, do Instituito Propague, justifica a urgência de expandir o ecossistema entre os clientes PJs a partir de alguns cenários observados no open finance. “Hoje, dentre as chamadas para troca de dados, a melhor performance é para cartão de crédito, o que não é uma linha de recursos que, no geral, financie a demanda dos PJs”, exemplifica. 

 

Fonte: Valor Investe Online