A estabilidade da aposentadoria depois de uma vida de trabalho continua sendo motivo de preocupação para muitos brasileiros. E uma parte cada vez maior deles deposita sua esperança no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Uma pesquisa realizada pelo Datafolha a pedido da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) apontou que a parcela que conta com esse benefício para uma velhice tranquila cresceu de 31% para 42% em dois anos. Nas regiões Norte e Nordeste, ela chegou a 43%.
Presidente da Fenaprevi, Edson Franco acredita que pensar no futuro e consequentemente na aposentadoria faz parte do comportamento do brasileiro, independentemente das gerações. Apesar disso, ele revela que essa preocupação tem ficado apenas no campo das ideias e pensamentos, com poucas ações propriamente ditas.
Um indício disso é que depois que pararem de trabalhar. Entre os que já fazem essa estimativa, a média é de R$ 1,6 mil. Abaixo do índice nacional, que ultrapassa os R$ 2 mil. Mas o presidente da Fenaprevi destaca que há uma boa notícia nesses números: a proporção de quem pensa em planejar suas finanças para o futuro vem aumentando, agora eles são oito a cada dez brasileiros.
“O conceito de planejamento financeiro vai além do período de aposentadoria. Ele é necessário para todas as fases da vida, afinal cada uma tem os seus desafios. Mas a fase da aposentadoria é particularmente importante, pois é o período da vida em que os rendimentos tendem a cair e os gastos, especialmente com saúde, aumentam. Entrar nesta fase com reservas e com proteção para vários imprevistos é fundamental para uma velhice tranquila”, alerta o presidente da Fenaprevi.
“Trabalho árduo”
Para Edson Franco, apesar do planejamento financeiro estar ganhando destaque, ainda há muito a se avançar. “É um trabalho árduo a ser feito, de conscientização da população e principalmente que os motive a ter uma mentalidade de longo prazo. Encarar as finanças pessoais é um grande fardo para a maioria das famílias, ainda é um tabu se falar de dinheiro, pois gera desconforto e apreensão”, afirma.
A professora de física Amazonina Oliveira é uma das representantes desses números. Aos 63 anos, ela está, há mais de um ano, correndo atrás da documentação para dar prosseguimento à aposentadoria pelo INSS, mas ainda não sabe quando conseguirá e nem quanto passará a receber. O que ela tem certeza, no entanto, é que a renda irá diminuir.
Amazonina conta que a aposentadoria não era uma preocupação para ela quando começou a trabalhar. “O que causava aflição sempre foi o que eu ganhava, por isso fui estudar muito. No dia a dia, com quatro filhos, a preocupação era sustentar a casa”, relembra a professora, apontando, inclusive, que o assunto passava tão despercebido em seu dia a dia que chegou a trabalhar em locais que não contribuíram com sua previdência e ela soube agora, quando precisou reunir os documentos necessários para a aposentadoria.
Hoje, o plano de Amazonina é continuar trabalhando depois da aposentadoria, mas em outra área. Ela pretende sair da sala de aula, espaço que considera cansativo, e desenvolver cursos online e orientações na área da engenharia. O objetivo é se manter ativa, mas também complementar a renda.
Amazonina faz parte da maioria (56%) daqueles que pretendem se aposentar pelo INSS. Eles sabem que precisarão cortar gastos a partir dali. Apenas 31% consideram que a renda com a aposentadoria será suficiente para conseguir pagar as despesas e manter o modo de vida atual. Outros 9% têm certeza que passarão dificuldades.
Economista e consultor financeiro, Edval Landulfo lembra que há 30 ou 40 anos, quando Amazonina e tantos outros nordestinos estavam no início de suas carreiras, a aposentadoria não era tão discutida e planejada. Hoje, segundo o especialista, o assunto já é levado para os ambientes de trabalho. Mas, para ele, as discussões ainda não são suficientes e os números devem causar preocupação.
Busca por alternativas
“O pessoal bem informado, com mais instrução já sabe que a renda pelo INSS não será suficiente. Quem recebe, por exemplo, R$ 20 mil não vai chegar nem perto disso com a aposentadoria, porque o teto é cerca de um quarto desse valor. Recebo casos de pessoas que começaram a trabalhar cedo e com a aposentadoria vão reduzir a renda para um sexto. Os números são desesperadores. Então, para quem quer manter o mesmo padrão, é preciso buscar outras alternativas”, alerta.
Na pesquisa do Datafolha, outras opções de renda para uma aposentadoria são citadas pelos entrevistados: venda ou aluguel de imóveis (14%), poupança (22%) e previdência privada (10%). A orientação do economista é justamente pensar desde agora neste tipo de investimento que force o trabalhador a poupar, como títulos do tesouro direto. Segundo Edval, para quem tem acesso a poucas alternativas, vale também ficar atento às estratégias como o MEI (Microempreendedor individual), que pode garantir uma aposentadoria de pelo menos um salário mínimo e meio.
Fonte: A Tarde – Últimas Notícias