A indústria de seguros será um dos setores globais onde a inteligência artificial [IA] será mandatória. Em entrevista ao Valor Econômico, Joseph Yee, vice-presidente da FPT Software nos EUA afirmou que estamos apenas tateando as possibilidades e, possivelmente, vivemos no início de uma nova era, que vai trazer novos padrões para a indústria de seguros.
O executivo-chefe de marketing (CMO) da Earnix, David Howland, também disse que o setor ainda se baseia em modelos que “olham o passado para prever o futuro”. Segundo o especialista, “precisamos nos mover para além disso e parar de perseguir fantasmas”. O CMO da Earnix e o vice-presidente da FPT participaram do InsuTech Connect (ITC), maior feira do mundo de tecnologia e seguros, em Las Vegas, nos EUA.
Howland explicou que o uso de ferramentas de IA vai ajudar a reconhecer novos padrões comportamentais e de riscos diversos com muita facilidade. “É até assustador como o reconhecimento de padrões se torna elevado quando passamos a usar fontes diversificadas de dados junto com análises por inteligência artificial”, acrescenta.
De acordo com Yee, da FPT, daqui até 2030, as mudanças no mercado de seguros serão muito grandes e até mesmo difíceis de prever. O executivo comparou a velocidade de transformação da IA com outra tecnologia, hoje muito disseminada, a computação em nuvem (cloud computing).
“Demorou mais de 10 anos para que a indústria entendesse que a nuvem seria imprescindível para modernizar, dar agilidade e flexibilidade aos negócios. No caso da IA, tudo será bem mais rápido e já nos próximos anos as aplicações vão mudar totalmente o setor”, afirma ele.
De acordo com o Valor Econômico, conforme Yee, não se trata de uma companhia escolher adotar ou não sistemas de inteligência artificial. O salto de eficiência em processos, análise de riscos, avaliação de sinistros, interação com os consumidores e interpretação de dados para a criação de novos produtos será tão grande que tornará quase obrigatório o uso dessa tecnologia pelo setor, complementa o executivo.
Howland afirma que a IA vai trazer, no agregado de todos os setores, um aumento de US$14,2 trilhões para a economia global em 2030 na comparação com o PIB mundial atual. A Earnix calcula ainda que 40% dos serviços vão depender de motores de IA. O advento da tecnologia vai gerar ainda 95 milhões de empregos nos próximos seis anos.
Em termos de novas tecnologias, em breve, o setor de seguros também será impactado por uma outra onda de inovação que virá por meio da computação quântica. Segundo o cientista de dados e diretor do programa de fintechs e insurtechs da Universidade de Connecticut (UConn), John Wilson, nos próximos três a quatro anos começaremos a ter notícias sobre aplicações construídas sobre sistemas quânticos.
Como o nome sugere, a computação quântica utiliza os princípios da mecânica quântica para criar sistemas com capacidade exponencialmente superior à das máquinas tradicionais. Conforme pesquisas feitas por empresas como IBM e Google, que estão na vanguarda do desenvolvimento da tecnologia, um supercomputador tradicional levaria 300 trilhões de anos para quebrar a criptografia mais avançada. Um computador quântico pode fazer a tarefa em 10 segundos. Essas plataformas poderão resolver sistemas complexos atualmente impossíveis de serem solucionados por equipamentos de arquitetura binária.
Wilson afirmou que “há um grande potencial para uso da computação quântica no setor de seguros, devido à capacidade de se criar aplicações e modelos preditivos”. Conforme o acadêmico, “inicialmente, as soluções devem ser mais utilizadas pelos resseguradores, como, por exemplo, modelos de previsão de riscos climáticos e segurança cibernética”.
O cientista da UConn disse ver um grande potencial também na combinação de aplicações quânticas com a tecnologia blockchain, utilizada nas criptomoedas. “É um campo muito promissor, que pode acelerar a digitalização em muitos setores”, avaliou.
Fonte: CQCS