Pode-se dizer que períodos de crise econômica ajudam a alavancar algumas modalidades de seguro, como o de crédito. E o motivo é simples. Os calotes e as incertezas de fluxo de caixa e pagamentos entre empresas e seus fornecedores levam a busca por este tipo de proteção. Foi o que aconteceu nos anos de 2015 e 2016. O mercado sentiu o tranco em 2015 e 2016. O mercado sentiu o tranco em 2015 e correu para o seguro em 2016, quando as vendas desta modalidade avançaram 18%, para cerca de R$ 270 milhões, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep).

O ritmo desacelerou em 2017 e avançou apenas 2,7%. Mas deve continuar a ascensão em 2018 porque a lembrança do passado ainda é recente e o mercado muitas vezes amadurece com os solavancos que toma. Como indeniza as empresas no caso de inadimplência de seus clientes, o seguro de crédito, que é tradicionalmente usado em transações internacionais, tem despertado mais interesse para negócios domésticos. Tanto que as empresas começam a ver outros ganhos implícitos no produto, como um alavancador do potencial de vendas na medida em que reduz seus riscos de não recebimento.

“A partir do momento em que a empresa aciona e recebe a indenização da seguradora, ela não precisa mais se preocupar com aquela dívida, pois as seguradoras possuem uma rede de cobrança para recuperar créditos e esses custos estão incluídos no prêmio”, diz Cristina Salazar, vice-presidente da Comissão de Riscos de Crédito e Garantia da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg).

A Coface, uma das maiores seguradoras desta modalidade no mundo e pioneira no país, diz que, no Brasil, 65% das empresas que contratam seguro de crédito são multinacionais porque tem como política global a proteção de recebíveis. “O que mostra que há um potencial enorme para crescer aqui e que muitas empresas ainda não conhecem os benefícios deste seguro”, alerta Marcele Lemos, CEO da Coface no país. Ela explica que em períodos de crise as empresas tomaram um susto porque em 2015 o número de recuperação judicial no Brasil aumentou 55% e em 2016, em 45%. 

“As empresas foram pegas de surpresa. Algumas estavam muito alavancadas e não conseguiram tomar mais crédito para pagar suas faturas. Assim, foram buscar no seguro de crédito uma forma de proteção”, explica. No ano passado, a Coface registrou crescimento de 9,3% no total de prêmios em carteira, para R$ 94 milhões. Este ano, a meta é de avançar entre 10% a 12%, puxada pela Copa do Mundo. “Apesar de haver muita paralisação por conta da Copa, as vendas de eletroeletrônicos como televisores e celulares costumam aumentar e o setor faz parte do perfil de clientes do seguro de crédito”.

Animada com os primeiros sinais de retomada da economia, a Euler planeja lançar dois produtos com coberturas novas no Brasil. Um deles terá cobertura estendida por 30 dias, caso a seguradora resolva cancelar o seguro por detectar risco elevado de calote. “O segurado pode continuar a vender por mais 30 dias. Para quem vende é importante ter previsão mínima, o que dá tempo para sair daquele cliente aos poucos. Isso é inovador no mercado”, afirma Luciano Mendonça, diretor comercial da Euler Hermes no Brasil.

O outro será um seguro híbrido que terá duas características dentro da mesma apólice. Uma é que parte do limite de crédito será cancelável e a outra parte não. Os percentuais que ficarão em cada parte dependerão da carteira negociada pela empresa, do setor que representa, de seu fluxo de caixa e da qualidade dos recebíveis. “Dá para fazer uma calibragem entre os diferentes riscos daquela empresa, o que torna a apólice mais barata. Também é um produto novo no mercado brasileiro e vamos lançá-lo em abril”, diz Mendonça. A Euler fechou 2017 praticamente sem crescimento, com R$ 64 milhões em prêmios nessa modalidade, e prevê avançar 15% em 2018.

Já a AIG lembra que outra vantagem do seguro de crédito é que as empresas que possuem esse tipo de apólice são melhor avaliadas pelo mercado, pois protegem seus ativos. “Quem tem recebíveis, tem ativos bons. Além de ter comprador oferecendo pagamento, tem seguro e consegue buscar fontes alternativas de financiamento. São operações chamadas de trade finance, que dão para negociar com o banco”, afirma Eduardo Cruci, gerente de linhas de crédito da AIG Brasil. “E isso não é tudo. Nosso produto é não cancelável e garante no prazo da apólice que o limite de crédito será vigente. Não mudamos as coberturas que damos no primeiro dia de limite de crédito”, diz Cruci. A AIG prevê avançar próximo a 10% este ano sobre os R$ 64 milhões em prêmios de 2017.

Fonte: Valor