O mercado segurador pressionará o governo pelo andamento das agendas regulatória e de microrreformas em 2018. Após pequeno avanço de 3,2% em 2017 contra 2016, previsão é que novos produtos e maior preparo tragam alta de dois dígitos para o setor em 2019.

“O objetivo é fazer com que as autoridades priorizem uma agenda que permita ganho ao setor no curto e médio prazo”, comenta o presidente da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais (CNseg), Marcio Coriolano em evento promovido pela confederação.

Desde o ano passado a CNseg já pressionava para que a Superintendência de Seguros Privados (Susep) e o próprio Ministério da Fazenda trouxessem o marco regulatório e colocassem em andamento medidas para sustentar o crescimento e de solvência do setor.

O mau encaminhamento da situação fiscal do País e até mesmo as dificuldades para aprovação das reformas no Congresso, porém, adiaram as medidas voltadas ao mercado e ainda trarão volatilidade em 2018.

Segundo Coriolano, o pouco espaço que sobra na agenda legislativa pode ser compensado com as microrreformas.

“O governo não pode esquecer que há assuntos de seguros que contribuem para a questão fiscal e que a pauta microeconômica não necessita de projeto legislativo para acontecer. É um cardápio importante de medidas, mas que ainda depende de vontade política”, acrescenta.

Além do produto de segurança no trabalho e de garantia – bastante comentado com a possível implementação da nova lei de licitações –, os executivos ponderam questões regulatórias de capitalização e a melhoria nos seguros de saúde – que ainda enfrenta dificuldades.

Para Coriolano, a depender da direção dada aos assuntos por parte das entidades regulatórias e fiscalizadoras, o crescimento do setor pode alcançar os dois dígitos a partir do ano que vem.

A arrecadação total do mercado em 2017 – sem contar saúde suplementar – somou R$ 247,1 bilhões, alta de 3,2% em relação ao ano anterior (R$ 239,3 bilhões).

“Há muito a ser feito. O crescimento da nossa indústria estará sempre limitado pela capacidade do País de incluir mais pessoas no mercado e da própria recuperação econômica. A expectativa é que as escolhas de 2018 levem a um crescimento melhor em 2019”, complementa Coriolano.

Ramos Elementares

Um dos fôlegos deve vir dos ramos elementares, principalmente nas apólices de automóveis – que mostraram quedas significativas na crise, ante aumento de preços e sinistros.

“Apesar da alta sinistralidade, nós esperamos que as atitudes a favor da segurança pública e o fortalecimento do auto popular ajudem a trazer preços e crescimentos mais compatíveis com as expectativas”, avalia o presidente da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), João Francisco Borges da Costa.

Segundo dados da Susep, desde sua implementação em dezembro de 2016, os prêmios diretos do seguro auto popular cresceram mais de 500% até o final do ano passado, de R$ 23,9 mil para R$ 148,1 mil.

Além da maior abrangência que o seguro traria para o mercado, a expectativa é que a aderência do auto popular também contribua no combate à venda de proteção veicular, produto vendido por administradoras e considerado ilegal, uma vez que não é regulado pela Susep.

“Com as novas fronteiras que as fintechs e o on-line têm trazido, temos trabalhado fortemente contra o mercado marginal que, inclusive, já começa a atuar em diversos setores”, pontua o superintendente da Susep, Joaquim Mendanha de Ataides.

Somado às apólices de garantia, outro produto que também pode influenciar positivamente o mercado é o seguro rural.

“Mas o setor precisa se adequar e conhecer o negócio do agricultor e todos os riscos aos quais ele está exposto. Se conseguirmos melhorar esses pontos, o potencial é alto”, disse o diretor geral de habitacional e rural do grupo segurador BB&Mapfre, Wady Cury ao DCI.

“São os três pontos de atividade deste ano e que, se conseguirmos atingir todas as necessidades dos produtos, continuaremos a colher bons frutos”, completou Costa.

Cobertura de pessoas

Entre o movimento de recuperação do setor, por outro lado, outro assunto importante diz respeito aos planos de cobertura de pessoas e de acumulação, segmento fortemente atingido tanto pelo aumento do desemprego no País ao longo da crise como pela queda significativa da taxa básica de juros (Selic).

Só em dezembro de 2017, por exemplo, a queda desse tipo de produto foi de 19,8% ante o mesmo mês de 2016 (de R$ 19,5 bilhões para R$ 15,9 bilhões) e foi responsável por grande parte da queda da arrecadação total do mês, que foi de R$ 28,5 bilhões para R$ 24,3 bilhões na mesma relação (-14,7%).

Para o presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), Edson Franco, a continuidade da agenda de desenvolvimento de mercado junto à Susep e a maior estabilidade da economia trazem esperanças para o segmento ao longo deste ano.

“A evolução regulatória dos produtos de acumulação e a modernização das regras de investimento num cenário em que o cliente busca maior diversificação trará maior flexibilidade na oferta de produtos e será positivo ao setor”, reforça.

Os seguros de funeral e a conclusão plena do Vida Universal também são esperados para implementação em 2018.

Saúde Suplementar

No que diz respeito à saúde suplementar, a pressão da CNseg e da própria Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) para a redução dos custos de transação e operação ainda não obteve os resultados esperados e preocupa o setor.

“Perdemos cerca de 280 mil beneficiários em 2017 e tanto nós quanto os consumidores sentimos o peso dos custos assistenciais nas mensalidades que, mesmo com inflação baixa, ainda devem ter ajustes nos dois dígitos”, diz a presidente da federação, Solange Mendes.

O diretor de desenvolvimento da Agência Nacional da Saúde Suplementar (ANS), Rodrigo Aguiar, porém, pondera dificuldades e afirma um “trabalho árduo” por parte da autoridade.

“O foco é fazer com que os recursos sejam melhor alocados para desacelerar os custos. É urgente a automação desse processos sem reduzir a qualidade”, conclui Aguiar. /A repórter viajou a convite da CNseg.

Fonte: DCI