Volume de indenizações pagas pelas seguradoras em razão de inadimplência, recuperação judicial e falência das empresas também subiu

O risco do calote nas vendas a prazo no mercado corporativo tem levado cada vez mais empresas a intensificar a procura por apólices de seguro das operações de crédito no Brasil. Números da Superintendência de Seguros Privados (Susep) mostram que nos últimos três anos, o volume de prêmios contratados pulou de R$ 568,5 milhões para R$ 678,1 milhões.

Por outro lado, as seguradoras também estão tendo que desembolsar bem mais para cobrir os sinistros. Se em 2013 a razão entre a receita e o que a seguradora paga quando acionada era de 47,66%, em 2014, este patamar atingiu 70,99%. E em 2015 chegou a 113,44%. O que tem levado as seguradoras a aumentarem suas medidas de proteção ao risco. A presidente brasileira da multinacional de seguro de crédito Coface, Marcele Lemos, explica que não houve redução no limite de cobertura – continua sendo 90% de responsabilidade da seguradora e 10% do risco para empresa cliente – porém, foi intensificado o monitoramento das empresas. Se antes, este trabalho era feito a cada três meses, hoje, é feito mensalmente para garantir mais rapidez e agilidade na identificação e fragilidade das empresas. As seguradoras também estão mais conservadoras na análise do crédito. “É um momento que requer mais cuidado e conservadorismo”, afirma Marcele, ressaltando, no entanto, que seguradoras possuem reserva técnica para garantir o equilíbrio das contas em momentos de crise e que no Brasil, em função da atual conjuntura econômica, este quadro já era esperado.

Apesar do risco, esta também é uma oportunidade de impulso ao seguro de crédito. Ela diz que apesar da cultura das empresas em fazer seguro para as operações de crédito ainda ser muito tímida no Brasil, se comparado aos demais países, esta é uma modalidade que cresceu 35% este ano. E a procura tem sido ainda maior. “Neste momento de crise traz uma janela de oportunidade para o seguro de crédito porque as empresas já tiveram uma perda e começam a buscar o que existe no mercado para se proteger e não repetir as perdas do ano passado”. A francesa Coface é uma das gigantes globais em análise de risco.

Ontem, em Fortaleza, a convite da Brasil Insurance (holding de corretora de seguros) a empresa reuniu empresários cearenses. Junto com a presidente da Coface, a economista-chefe da seguradora, Patrícia Krause traçou um panorama sobre o cenário econômico brasileiro. Patrícia explica que motivos para que as empresas se preocupem com o risco de calote não faltam. A desaceleração da economia freou o consumo, fazendo crescer os estoques das empresas, o que repercutiu também em inadimplência no pagamento de fornecedores. Neste cenário, muitas não estão resistindo à crise. De janeiro a maio deste ano, houve um aumento de 95% nos pedidos de recuperação judicial, em relação ao mesmo período de 2015. Isso aconteceu principalmente em setores mais ligados ao consumo, como o varejo, o setor têxtil, a construção civil. Ela destaca, no entanto, que a economia começa a dar alguns sinais de recuperação e a expectativa é de que em 2017 o País feche o ano com um PIB zero.

Crescimento

O presidente da Brasil Insurance, Marcelo Epperlein, confirma o crescimento desta modalidade de seguros também no Ceará. “É nestas horas de crise que as empresas começam a analisar todos os riscos do seu negócio. Quando tem crédito abundante, está todo mundo comprando, todo mundo paga as suas contas, mas quando isso não ocorre, vem também a oportunidade de conhecer e proteger melhor o seu negócio”.

O seguro de crédito cobre transações mercantis entre duas empresas, seja no mercado interno ou externo. Além de cobrir eventos como inadimplência, recuperação judicial ou falência das empresas, esta modalidade pode contribuir para uma melhora na tomada de decisão das empresas, já que possibilita o monitoramento das empresas-clientes. E no Brasil é também muito usada como garantia para antecipação de recebíveis junto às instituições financeiras, ressalta Marcele Lemos. Ela explica que o valor das apólices é estipulado com base no faturamento da empresa, sua cartela de clientes, setor de atuação e na análise de risco de mercado.

Fonte: O Povo