As novas regras para comercialização de seguros massificados no varejo, em vigor há nove meses, pressionaram a maior parte das seguradoras a revisar suas apólices voltadas para o segmento e a aumentarem os gastos.

As modificações na regulamentação do setor começaram em outubro de 2013, com uma resolução do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), e foram complementadas por circulares da Superintendência de Seguros Privados (Susep), órgão regulador da área. Entre as mudanças, as novas normas determinaram que as redes varejistas passassem a autuar como representantes de seguros – ou seja, assumissem as responsabilidades pelas vendas das apólices junto às seguradoras – e vedaram a comercialização de apólices coletivas.

Além disso, o regulador limitou os tipos de seguros que podem ser vendidos nas lojas, definiu a venda tem que ser feita por profissional treinado, oferecendo informações claras para o consumidor, e também estipulou que o cliente tem direito a desistir da contratação após sete dias corridos.

Com as alterações, a maior parte das seguradoras precisou aumentar os gastos com automação de sistemas para a emissão de apólices individualizadas, com o treinamento do exército de vendedores que atua na ponta da cadeia (as seguradoras costumam assumir esse custo) e com o aperfeiçoamento dos sistemas de controle.

As empresas também precisaram adequar os produtos aos novos modelos autorizados – o seguro compreensivo residencial, por exemplo, teve de ser substituído pelo microsseguro, que é considerado mais simples e cujo limite de indenização é menor.
“A grande maioria dos nossos produtos eram apólices coletivas. Tivemos que aprovar todos os produtos para seguro individual”, explicou o diretor da Assurant Solutions, Vladimir Freneda.

Principais seguros

Os dois principais seguros massificados de varejo, chamados assim por serem vendidos em larga escala e terem valor reduzido, são a garantia estendida, que fornece uma garantia extra àquela oferecida pelo fabricante do produto, e a proteção financeira (ou prestamista), que garante o pagamento de prestações de bens adquiridos pelo segurado, em casos de desemprego, invalidez ou morte.

Dados da Susep apontam que esses dois tipos de seguros registraram um volume de prêmios R$ 11 bilhões em 2014, contra 9,8 bilhões em 2013, uma alta de 11,2%.

Freneda afirmou que a Assurant optou por não transferir os aumentos dos custos operacionais causados pelas mudanças das regras para os consumidores. De acordo com ele, a seguradora possui escala suficiente para absorver os novos gastos, sem precisar aumentar os prêmios.

“A operação se tornou mais cara e nós temos escalas, mas tivemos que reduzir as margens”, disse.
A Assurant, segundo dados disponibilizados pela Susep, possui sua operação de massificados concentrada no estado de São Paulo e, no ano passado, emitiu R$ 337,7 milhões em prêmios de seguros prestamista e garantia estendida.

Já Ricardo Barreto, diretor da BNP Paribas Cardif do Brasil, disse que o maior impacto das novas regras na empresa foi a adaptação dos produtos existentes para o novo formato estipulado. “O seguro de automóvel, por exemplo, tive que ajustar para microsseguro”, afirmou o especialista.

Uma estratégia adotada pela companhia, segundo ele, foi agregar acessórios às coberturas tradicionais. “Inserimos a capitalização, por exemplo”, explicou Barreto.

Barreto apontou, entretanto, que, por conta da alta rotatividade do setor varejista – em média, 21% dos funcionários deixam uma companhia em um ano, de acordo com ele – a Cardif já investia em treinamento dos vendedores e não viu os custos aumentar com essa parte da operação.

Transparência

As maiores reclamações dos consumidores em relação às vendas de seguros no varejo vinham da falta de transparência na comercialização. Eram comuns reclamações sobre vendas casadas (principalmente na garantia estendida) e descontos dados para a aquisição da mercadoria junto ao seguro, que possibilitava o pagamento de menos impostos.

Tanto os clientes e o regulador, quanto as seguradoras e as redes varejistas concordam que as modificações, principalmente aquela referente à figura do representante de seguros, ajuda a dar maior transparência nas vendas dos seguros por esse específico canal de distribuição. “O varejo é um canal importantíssimo de venda de seguros, que permite que o produto chegue às pessoas que não têm acesso a bancos. Quanto mais transparente e regulador melhor”, concluiu Freneda.

Fonte: CQCS