Apesar dos esforços governamentais para aumentar a relevância do interior na economia do estado, o Produto Interno Bruto (PIB) da Bahia continua concentrado na Região Metropolitana de Salvador (RMS).

Dados divulgados, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que apenas cinco municípios em todo o território estadual concentravam 42,6% do PIB baiano em 2011. Quatro desses municípios estão na RMS.

Os dados não contabilizam os investimentos anunciados nos últimos dois anos em setores como a mineração e a construção civil, de crescente relevância no interior.

Os dados do IBGE mostram que Salvador tinha 24,3% do PIB estadual, sendo o município com maior participação. Ao todo, o produto da capital baiana somou R$ 38,8 bilhões, em um total de R$ 159,8 bilhões em toda a Bahia.

Entre as razões para uma participação tão elevada está o fato de ser o município mais populoso, com aproximadamente 3 milhões de habitantes, num universo de 15 milhões. Por ser capital, Salvador é um polo de serviços, com destaque para o turismo e o comércio.

Apesar da capital baiana ter ganho participação na economia estadual, nacionalmente Salvador perdeu participação para Osasco. Em 2010, o PIB de Salvador correspondia a 0,96% da economia nacional e passou para 0,93% em 2011, fazendo o município perder uma posição, para a cidade paulista, saindo da 11ª para a 12ª colocação no ranking.

Segundo os dados do IBGE, Salvador é seguida por Camaçari, com 7,7% de participação no PIB, Feira de Santana com 5,2%, Candeias e Simões Filho com 2,9% e 2,5% respectivamente. Nesses municípios vivem apenas 26,3% da população estadual.

Camaçari, Candeias e Simões Filho são municípios que participam da cadeia do petróleo, incluindo a indústria química e petroquímica do estado. Feira de Santana se destaca pelas suas características de importante entreposto comercial, e entroncamento das principais rodovias federais e estaduais que cortam o estado, além de uma indústria diversificada.

PIB per capita

Dois desses municípios também aparecem na lista dos que têm melhor PIB per capita no estado. São eles Candeias (R$ 56,2 mil) e Camaçari (R$ 49,4 mil), que ocupam o terceiro e quarto lugares no ranking do PIB dividido pelo número de habitantes do município.

O prefeito de Candeias, Sargento Isidório, questionou os dados do IBGE. “Eu, como gestor, não enxergo razão para estarmos bem posicionados nesse ranking”, afirmou. “Diferente de outros municípios próximos, como Camaçari e Simões Filho, Candeias é hoje uma cidade retraída”, disse.

O município entra no ranking por fazer parte da cadeia de produção de petróleo e ainda abrigar o Porto de Aratu, responsável por escoar parte da produção do Polo Industrial de Camaçari. “Candeias recebe a fama de cidade do petróleo, mas só recebemos o passivo social da produção”. Segundo o prefeito, o município recebe R$ 800 mil por mês em royalties. A participação de Candeias no PIB era de 2,7% em 2010, 0,2% menor.

Por sua vez, o prefeito de Camaçari, Ademar Delgado, considerou o município o “principal vetor de crescimento” da RMS. “Antes, tínhamos só o Polo Petroquímico. Hoje, temos indústrias do setor eólico, automotivo, pneumático”, contou. Ele ainda destacou que os novos investimentos imobiliários puxarão o PIB do município para cima nos próximos anos.

Apesar de ter hoje uma economia mais diversificada, a crise da indústria petroquímica puxou a participação camaçariense para baixo. Isso porque a disparidade entre o preço internacional do petróleo, em alta, e o preço dos produtos finais no mercado interno impactou o produto das indústrias do setor. Em 2010, Camaçari tinha uma participação de aproximadamente 8,7% no PIB do estado, um ponto percentual a menos que os 7,7% de 2011.

“Houve uma internacionalização do preço do petróleo sem igual contrapartida no mercado interno, um resultado da estratégia do governo de segurar o preço da gasolina para evitar o aumento da inflação”, explicou o diretor da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), Gustavo Pessoti.

O prefeito de Camaçari, também admitiu que apesar do alto PIB per capita, a distribuição de renda ainda é um desafio. “A pobreza em Camaçari ainda é muito grande, mas temos melhorado o padrão de renda da população”, afirmou Delgado.

Os primeiros

Outros municípios que arrecadam com a exploração e refino de petróleo e gás, como São Francisco do Conde e Cairu, foram os de maior PIB per capita na Bahia em 2011, R$ 106 mil e R$ 56,6 mil, respectivamente.

Apesar disso, Pessoti, da SEI, lembra que as mesmas razões levaram São Francisco do Conde a perder participação em 2011. “O PIB de São Francisco era o 3º maior do estado e passou a ser o 7º maior.”

O secretário de Finanças de Cairu, Isaías Ribeiro, também destacou que a plataforma de exploração de petróleo e gás do Projeto Manati, da Petrobras, não traz muitos benefícios para os municípios. “Esse alto PIB per capita não significa que o município tem ganhado muito”, afirmou. “Esse número reflete uma receita produzida no município, mas que não é consumida aqui”.

Segundo ele, os royalties recebidos pelos 2,1 bilhões de metros cúbicos ao ano produzidos no local não rendem mais de R$ 5 milhões. Localizado no Baixo Sul baiano, Cairu abriga ilhas turísticas como Morro de São Paulo e Boipeba. No Brasil, segundo o estudo, em 2011, apenas 55 – dos 5.565 municípios existentes no país – concentravam cerca de 50% do PIB brasileiro, sendo que 6 deles respondiam, sozinhos, por aproximadamente 25% da economia nacional.

‘Concentração ainda é violenta’, ressalta diretor de indicadores

O diretor de Indicadores e Estatística da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais (SEI) do estado, Gustavo Pessoti, ressalta que a concentração da economia na capital e região metropolitana é gritante. “Essa concentração ainda é violenta”, afirmou. Segundo ele, isso decorre da quase inexistência de cidades médias no estado.

“Dá para contar os municípios médios no estado nos dedos”, disse. Por outro lado, há no estado uma grande quantidade de municípios muito pequenos, cuja participação no PIB é quase irrelevante. “Temos uma quantidade enorme de municípios abaixo de 10 mil habitantes”, destacou. “Esse é um problema estrutural na Bahia, não muda de uma hora para outra”, acrescentou.

Por sua vez, o secretário do Planejamento do estado, José Sérgio Gabrielli, afirmou que, apesar disso, a concentração da economia já tem diminuído. “Estamos vivendo hoje um processo de descentralização do PIB”, disse. Esse grau de concentração de 42% em cinco municípios ainda é alto, mas é menor do que outros estados do Nordeste, cuja concentração da economia nas capitais e regiões metropolitanas supera os 50%”, disse. Ele destaca, por exemplo, o aumento da relevância da indústria agrícola do Oeste.

São Desidério, no Oeste baiano, lidera PIB agrícola dos municípios

O município de São Desidério, localizado no Oeste do estado, foi o que mostrou maior participação no valor adicionado bruto da agropecuária no PIB do Brasil em 2011. A contribuição total do município foi de R$ 832,8 milhões, segundo a pesquisa Produto Interno Bruto dos Municípios 2011, do IBGE.

“Assim como São Desidério, outros municípios concentrados no Oeste têm tido cada vez mais participação no PIB nacional, influenciados pela nova agricultura exportadora”, destacou José Sérgio Gabrielli, da Seplan. Em 2010, São Desidério tinha ficado em 3º lugar no ranking, mas foi o maior produtor de algodão herbáceo do país no ano seguinte, responsável por 14% de toda a produção nacional e 45,1% da produção baiana.

Praticamente todos os municípios da região Oeste ganharam posições no PIB e aumentaram sua participação na economia baiana. Outro destaque foi Formosa do Rio Preto, que saiu da 33ª posição e passou para a 26ª em 2011, com uma variação nominal de 54%. Levando em consideração o PIB per capita, Luís Eduardo Magalhães (R$ 43,8 mil) e

São Desidério (R$ 43,5 mil) foram destaques, ocupando a 5ª e 6ª posições na Bahia.

Conquista, Paulo Afonso e Dias D’Ávila são destaques por setor

Na análise do valor agregado do PIB por setor da economia, outros municípios como Vitória da Conquista, Paulo Afonso e Dias D’Ávila aparecem entre os destaques. No setor de serviços, que corresponde a 67% de toda riqueza produzida no estado, Conquista aparece em quarto lugar, com participação de 2,8%. “O município destacou-se pelo desempenho positivo em praticamente todos os segmentos do setor, particularmente a prestação de serviços às famílias e às empresas, serviços educacionais e de saúde”, ressaltou nota técnica da SEI sobre os PIBs municipais divulgada na noite de ontem.

No setor, os três primeiros colocados são Salvador (29,2%); Feira de Santana (5,6%) e Camaçari (3,7%). O quinto lugar foi ocupado por São Francisco do Conde (2,76%). Levando em consideração a indústria baiana, Paulo Afonso aparece como o quarto mais importante com 4,4%, graças à presença de quatro usinas da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf); Dias D’Ávila (4,04%), que apresentou aumento na sua participação, principalmente na indústria de transformação, é o quinto lugar. Camaçari, Salvador e Feira lideram a lista.

Fonte: Correio 24horas